Maior Tragédia do Brasil Foi na Serra das Araras

Criada em 14/01/2011 17:39 por maperna | Marcadores: fen geral

Desabou: A Serra das Araras ficou “pelada” após tragédia de 1967

Desabou: A Serra das Araras ficou “pelada” após tragédia de 1967

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Publicado em 14/1/2011, às 19h43

Aurélio Paiva

Uma cruz de 10 metros na subida da Serra das Araras (Piraí-RJ), no local conhecido por Ponte Coberta, marca o início de um enorme cemitério construído pela natureza. Lá estão cerca de 1.400 mortos (fora os mais de 300 corpos resgatados) vítimas de soterramento pelo temporal que atingiu a serra em janeiro de 1967. Foi a maior tragédia da história do país, superando o número de mortos da atual tragédia na Região Serrana do Estado do Rio de Janeiro, hoje acima de 500.

No episódio da Serra das Araras, suas encostas praticamente se dissolveram em um diâmetro de 30 quilômetros. Rios de lama desceram a serra levando abaixo ônibus, caminhões e carros. A maioria dos veículos jamais foi encontrada. Uma ponte foi carregada pela avalanche. A Via Dutra ficou interditada por mais de três meses, nos dois sentidos.

A Revista Brasileira de Geografia Física publicou, em julho do ano passado, a lista das maiores catástrofes por deslizamento de terras ocorridos no país. O episódio da Serra das Araras, com seus 1700 mortos estimados, supera de longe qualquer outro acidente do gênero no país.

Para se ter uma idéia do que ocorreu na Serra das Araras basta comparar os índices pluviométricos. A atual tragédia de Teresópolis ocorreu após um volume de chuvas de 140mm em 24 horas. Na Serra das Araras, em 1967, o volume de chuvas chegou a 275 mm em apenas três horas. Quase o dobro de água em um oitavo do tempo.

Mas o episódio da Serra das Araras parece ter sido apagado da memória do país e, especialmente, da imprensa. O noticiário dos veículos de comunicação enfatiza que a tragédia da Região Serrana do Rio superou o desastre de Caraguatatuba em março de 1967 (ver abaixo). O caso da Serra das Araras, ocorrido em janeiro daquele mesmo ano, sequer é citado.

Até a ONU embarcou na história e colocou a tragédia atual entre os dez maiores deslizamentos de terras do mundo nos últimos 111 anos.

Caraguatatuba

O ano de 1967 foi realmente atípico. Em março, dois meses após a tragédia da Serra das Araras, outro desastre atingiu Caraguatatuba, no litoral paulista. Chovia quase todos os dias desde o início do ano (541mm só em janeiro, o dobro do normal). Do dia 17 para 18 de março, um temporal produziu quase 200 mm de chuvas em um solo já encharcado. No início da tarde de 18 de março, sábado, a tragédia aconteceu sob intenso temporal que chegou a acumular 580mm de chuvas em dois dias (Teresópolis teve 366mm em 12 dias).

Segundos os relatos da época, houve uma avalanche de lama, pedras, milhares de árvores inteiras e troncos que desceu das encostas da Serra do Mar, destruindo casas, ruas, estradas e até uma ponte. Cerca de 400 casas sumiram debaixo da lama. Mais de 3 mil pessoas ficaram desabrigadas (20% da população da época). O número de mortos - cerca de 400 - foi feito por estimativa, pois a maioria dos corpos foi soterrada ou arrastada para o mar.

Detalhe: Caraguatatuba, em 1967, era um balneário turístico de 15 mil habitantes. Dá para imaginar quais seriam as consequências se aquela tragédia ocorresse hoje, com os atuais 100 mil habitantes.

 

 

Serra das Araras - 1967

‘Vimos mortos nas árvores, braços na lama'


Bárbara Osório-MacLaren nasceu na Alemanha em janeiro de 1939. Tendo sobrevivido à II Guerra Mundial, veio para o Brasil com a família em 1950, quando tinha 11 anos, atendendo a um chamado do avô materno, que já vivia no país. 
Foi morar em São Paulo, na Tijuca Paulista, fez Admissão no Externato Pedro Dolle e, quando jovem, estudou no Ginásio Salete. Frequentava o Clube Floresta: "Nos encontrávamos (com os amigos) para nadar ou praticar outro esporte", relembra.

Em 1961, mudou-se para a Inglaterra. Seis anos depois, aos 28 anos de idade, voltou ao Brasil para rever os amigos. 
Já no Rio de Janeiro, em 22 de janeiro de 1967, às 23 horas, tomou um ônibus da Viação Cometa com destino a São Paulo. Um temporal desabou na Via Dutra, que acabara de ser duplicada. Nunca, naquela região, se havia visto ou iria se ver uma chuva tão forte quanto aquela que presenciava a jovem alemã e que ela relata a seguir:

- Dentro de 40 minutos, na Via Dutra, houve um temporal. O nosso ônibus já estava na subida, mas a estrada se abriu a nossa frente. Lá ficamos até a manhã do dia seguinte. Pela rádio ouvimos os gritos de pessoas em outros carros, estavam sufocando na lama.

Bárbara dá detalhes: "Pela manhã, descemos o morro a pé, vimos mortos nas arvores, braços na lama, as reportagens nos jornais falavam de mais de 400 mortos. Eu desmaiei no transporte de caminhão desta cena ao Centro do Rio. Quando acordei do coma ou desmaio, estava em Lisboa, Portugal. Em outras palavras, em vez de me levarem a um hospital no Rio, me despacharam para a Europa".

A experiência da jovem alemã, hoje com 72 anos, foi contada há dois anos em um depoimento ao site "São Paulo Minha Cidade" e dá a dimensão do que ocorreu na Serra das Araras em 1967.

Mas seu depoimento, 42 anos após a tragédia, é uma raridade. Há poucas histórias registradas sobre os acontecimentos da época, por duas razões: carência de boa cobertura jornalística, em virtude dos parcos recursos tecnológicos da imprensa no período, e o fato de que o episódio foi tão trágico que poucos sobreviveram para testemunhá-lo.

Outra das poucas histórias que sobreviveram também envolve um cidadão estrangeiro. É a história do motorista do ônibus prefixo 529 da Viação Cometa, que salvou a vida de quase todos os passageiros. O motorista, quando vislumbrou a tragédia que poderia se suceder, pediu que todos deixassem o ônibus, mas um estrangeiro recusou-se à deixar o veículo. Poucos minutos depois, uma rocha rolou e caiu sobre o ônibus, matando o estrangeiro.

 

 

Advogado lembra trabalho de presos

 


O advogado Affonso José Soares, de Volta Redonda, que morava em Piraí na época da tragédia, lembrou que, na madrugada da tragédia na Serra das Araras, trabalhava em um habeas corpus para a libertação de sete presos. Eles haviam sido detidos, em flagrante, cerca de dois meses antes, praticando um jogo ilegal de aposta conhecido como "Jogo da Biquinha". Durante a madrugada, percebeu o barulho do estrondo, mas continuou o trabalho com o auxílio de um lampião, já que a cidade ficou às escuras por causa dos deslizamentos na serra.

- Estava trabalhando no meu escritório e escutei o estrondo por volta de uma ou duas horas da manhã. Estava trabalhando intensamente em um habeas corpus para sete presos que estavam na cadeia de Piraí e, quando as luzes se apagaram, tive que usar um lampião durante a madrugada toda - lembrou.

Na manhã seguinte, segundo ele, o município foi "invadido" por passageiros do Rio de Janeiro e de São Paulo, que ficaram impossibilitados de passar pela serra devido aos desmoronamentos e crateras.

- Foi uma ocorrência de acidente muito grave. Os ônibus de São Paulo e carros do Rio entravam em Piraí e não tinham como seguir viagem. O comércio foi praticamente invadido por passageiros. A tromba d'água tinha destruído praticamente todo o acesso. Na Serra das Araras, havia crateras enormes. Demoraram quatro ou cinco meses para restabelecer a situação - lembrou.

Antes do meio dia, no dia da tragédia, o advogado lembra que foi procurado pelo delegado que pediu sua ajuda para convencer os presidiários a colaborarem no resgate das vítimas.

- O contingente da delegacia era de cinco pessoas, entre policiais militares e civis e havia necessidade imediata de pessoas para realizar o trabalho de prestar socorro às vítimas presas nas crateras. O delegado acrescentou que os presos depositavam confiança em mim e me respeitavam e que eu poderia convencê-los a ajudar - continuou.

Ao dirigir-se àquele que seria o "líder" dos presos, Affonso recordou que frisou a oportunidade de os presos mostrarem humanidade e solidariedade.

- Falei que eles estavam tendo uma oportunidade de prestar um serviço público e demonstrar espírito solidário. Mesmo assim, lembrei que se esboçassem qualquer reação de rebeldia poderiam ter sérios problemas, porque eu tinha material suficiente para incriminá-los. Eles aceitaram e pediram para dizer que estavam nas mãos do delegado - acrescentou o advogado.

Os sete presos fizeram o trabalham mais pesado do salvamento: foram amarrados por cordas e descidos até o local em que estavam às vítimas. Além de auxiliar no salvamento e nos primeiros socorros aos sobreviventes, apanhavam corpos e os traziam abraçados.

"Eles eram fortes e fizeram um trabalho que ninguém queria fazer. Trabalharam por 48 horas e voltaram à delegacia para ajudar na parte burocrática", frisou Affonso.

Dias depois, por intermédio de um escrivão piraiense que vinha de São Paulo, Affonso descobriu que o trabalho executado pelos presos havia ido parar na primeira página do Jornal da Tarde com o título "Os sete homens bons". Sem pestanejar, anexou a reportagem ao processo que estava organizando.

- Apanhei a primeira página do Jornal da Tarde e juntei ao habeas corpus e tenho certeza que isso contribuiu para obter a liberação deles. Eles demonstraram seu lado humano, o de quem não é só criminoso, bandido - explicou.

 


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Em 11/05/22 15:48 Gislaine Do Nascimento Moreira disse:

BTarde,tragédia mas ao mesmo tempo interessante!! Nunca tinha visto dizer!! Sou nascida V Redonda E resido Niterói Rio,procurando catástrofes 1963 meu ano...apareceu 1967!! O advogado Alfonso Alfonso teve exemplar condutas com os presidiários, mostrando lado humano e ajudando integração para uma vida digna ,Parabéns!!1550 mortos !! Chuvas e deslizamentos.Natureza bela,divina mas,traiçoeira com ser humano mts das vezes!!obrigado !! Gostei muito dessa notícia, tbm por ser de V Redonda Rio!!/ Obrigado!!

Em 12/12/21 21:09 Victor Santana disse:

Cara. Tenho 40 anos e nunca soube dessa tragedia. Soube sem querer por intermedio de um video sobre drone no you tube. Ai fui pesquisar e vi que era verdade. Que historia!! Merecia um filme.

Em 28/10/21 22:33 Elcinea de Moraes Miranda disse:

Eu e minha família, sobreviveemos à essa tragédia. Morávamos em Fontes e tudo era lama e desespero, ouvindo aquelas pessoas gritando ao verem os filhos se perdendo na correnteza de lama. Eu tinha seis anos e sai no colo de um soldado que me socorreu.

Em 22/09/20 19:39 Maria francisca da Conceição disse:

Eu e minha família Vivemos essa tragédia perdi 2 irmões e primos ,eu tinha 6 anos e até hoje tenho medo de chuva. Agradeço a Deus por sobreviver

Em 26/07/20 14:18 Luiz Henrique da Silva Santana disse:

Verdade, o lado da cooperação humanitária dos presos reforçou o direito à liberdade de ir e vir.

Em 08/06/20 10:34 LUIS OCTAVIO LEITE DE SOUZA disse:

Se fosse nos Estados Unidos, esses "Sete homens bons" teria virado filme e seriam prestados homenagens aos mesmos e principalmente para as famílias que sofreram na tragédia.

Em 24/01/20 15:17 Liliane disse:

Está tragédia da Serra das Araras atingiu a minha família, a nde minha mãe com minha avó na época estavam chegando de viagem de Aparecida do Norte e foram pegas em um engarrafamento na serra sem saber que sua família por pouco seus 10 irmãos não morrerá, e nem eles que moravam no Sítio Botafogo em Ponte coberta, estava nesta tragédia. Até hoje minha tia Avó com 86 anos e seu irmão de ,89 lembram desta tragédia com muita tristeza e são agradecidos a Deus por tal livramento. Assim que saíram de cas, ela foi levada pela enchente, subiam morro em busca de abrigo e socorro com irmãos de colo...Enfim, gostaria de maiores imagens e reportagens da época.

Em 28/01/19 23:17 José Carlos rodrigues disse:

Somos um povo sem memória!! Tudo se esquece. Triste de quem não se lembra do passado. Não constroe o fururo

Em 25/12/18 18:31 Enedina Martins da silva disse:

Mto triste em lembrar esse episódio,minha familia foi umas das sobreviventes, Deus colocou sua mãos sobre nós.Ate hj sinto pavor daquela noite e dos dias q se prolongou por mtos dias.Recontruimos nossa vida e sai de la aos 19 anos p estudar e trabalhar no Seropédica.tinha 5 anos na época,hj tenho 55 ,moro em.MG.Nao esqueco um momento qualquer tenho pavor de chuva ate hj.cresci traumatizada.obg pelo desabafo.

Em 24/06/17 12:38 valdir braz de azevedo disse:

Hoje assisti pela Globo News, sobre as tragédias das chuvas na cidade do Rio de Janeiro, fazendo um apanhado dos grandes eventos pluviais no RJ (1963 a 2017). Porém esqueceram de citar os 50 anos da tragédia da Serra das Araras, dizimando mais de 1.500 pessoas, na cidade de Piraí/RJ em janeiro de 1967. Criei uma página denominada "A importância da Light em Piraí/RJ", onde estou divulgando esse evento fúnebre de 1967. Vale a pena dar uma curtida. https://www.facebook.com/lightpirai/ Valdir Braz de Azevedo - Militar aposentado - Pesquisador - Assistente Social (61) 99588-0015 whatsapp

Em 22/07/16 12:40 José Florentino de Sales disse:

Fiquei sabendo destea notícia recentemente através de um colega de trabalho. Nessa época eu tinha apenas 06 anos de idade. Hoje quando posso, eu desço a serra para ir na Colônia de Férias em Caraguatatuba. Asim como eu, muita gente nem imagina que ocorreu uma tragédia tão grande como essa. Abraço!

Em 09/02/16 09:06 Josue Cruz De Oliveira disse:

Imagem q jamais saira da minha mente, eu tinha apenas 6 anos, e vi a encosta do morro descer, da porta da cozinha da minha casa, onde eu tomava café, meu pai e meu tio, socorreram muitos moradores do bairro poiares e tinga onde eu morava,..foi muito triste

Em 26/08/14 21:37 fabio da conceiçao barboza disse:

e uma historia muito triste uma tragedia como essa! e praticamente esta esquecida,so nao esquecida pra quem perdeu seus familiares ou amigos!