Entrevista: o Lixo Nosso de Cada Dia

Criada em 08/09/2011 05:28 por maperna | Marcadores: DESMA entrev fen peamb

Prof. João Alberto Ferreira

Prof. João Alberto Ferreira

O professor João Alberto Ferreira da Faculdade de Engenharia da UERJ fala, nesta entrevista, sobre as questões relacionadas ao lixo nosso de cada dia, um problema que se avoluma à medida que existe crescimento populacional e econômico. O professor indica caminhos viáveis e realistas para mitigar os impactos causados pelos resíduos gerados na sociedade contemporânea.

 

João Alberto Ferreira

D.Sc. em Saúde Pública pela ENSP - Fundação Oswaldo Cruz e M.Sc. em Engenharia Ambiental pelo Manhattan College, New York, USA. Professor Adjunto do Depto. de Engenharia Sanitária e do Meio Ambiente – Faculdade de Engenharia - UERJ. Pesquisador 2  do CNpq e Procientista desde 1997. Consultor da área de resíduos sólidos. Engenheiro da COMLURB (de 1975 a 1996).

 

ENTREVISTA

 

Professor, fale um pouco sobre suas atividades dentro do Programa de Pós-graduação em Engenharia Ambiental?

 

O nosso Departamento de Engenharia Ambiental possui um curso de graduação em Engenharia Sanitária e Ambiental e um Programa de Pós-graduação com um curso de mestrado e um curso de pós-graduação lato senso. Nosso mestrado tem caráter de mestrado profissional (é nível 4 na CAPES), focado nos profissionais de mercado que trabalham diretamente com a questão sanitária e ambiental. Eu trabalho como pesquisador e professor na área de resíduos sólidos. O Departamento é pioneiro na área sanitária e ambiental no país, tendo iniciado suas atividades há mais de 35 anos.

 

E os outros professores?         

 

Todos trabalham com a questão ambiental, cada qual com sua visão. Nós, da área de resíduos sólidos, trabalhamos com o objetivo de criar tecnologias e formar gente especializada para tratar dos resíduos sólidos, que é uma grande questão mundial, onde o Brasil tem um atraso muito grande evidenciado pela proliferação de lixões. Destaque-se que o Departamento tem, em seus quadros,  profissionais reconhecidos nas diversas áreas da engenharia sanitária e meio ambiente. O quadro de professores é composto por professores doutores (com um único mestre), sendo cinco  pesquisadores do CNPq e sete Procientistas.

 

Qual o foco de atividade da área de pesquisa de resíduos sólidos?

 

Trabalhamos na pesquisa na área de aterros sanitários, abordando a tecnologia em si, no tratamento de lixiviado, também conhecido como chorume, que tem potencial de grande impacto ambiental. Trabalhamos com a cobertura de aterros e também um pouco com a liberação de gases. Desde a criação do Programa de Pós-graduação, nós ganhamos diversos editais do CNPq, da FAPERJ e da FINEP. Esses recursos das linhas de pesquisa permitiram equipar nosso Laboratório de Engenharia Sanitária, que hoje está muito bem estruturado.

 

O Sr. Acredita que a universidade também tem a função de assessorar o poder público? 

 

Sim, e nós prestamos consultoria para diversas prefeituras no Estado do Rio. Posso citar como exemplo Piraí, Macaé, Mangaratiba, Miguel Pereira, até mesmo Juiz de Fora, já em Minas Gerais. Como órgão do Estado do Rio também prestamos consultoria à Secretaria de Meio Ambiente e ao INEA, que é o órgão ambiental do Estado. O importante nas nossas parcerias com os municípios é focar na realidade deles, compatíveis com as questões econômicas e de pessoal, onde muitas vezes as prefeituras possuem um só engenheiro responsável para diversos setores do governo, desde as obras públicas até a questão sanitária.

 

Para o público não especializado quando se fala em questão ambiental-sanitária pensa-se em reciclagem. Como o grupo de resíduos sólidos aborda esta questão?

 

Sobre a reciclagem, um aspecto importante deve ser ressaltado: a coleta seletiva, isto é, a coleta de lixo com a separação de materiais, tem um papel importante, mas não resolve o problema do destino final dos resíduos sólidos. Eu posso dizer que um projeto muito bem sucedido não retira mais do que 10% do lixo reciclado, isto é, dentro das nossas condições de infraestrutura. Na Alemanha, que é o país mais avançado no tratamento desta questão, consegue se chegar a um índice de 40%, que é inviável para nós atualmente. A cidade de Londrina, um município de porte médio, que é a melhor situada na reciclagem no país, consegue recuperar cerca de 18%, o que faz com que sobre ainda 80% de lixo não-reciclado e que tem que ter um destino adequado. 

 

Então, qual o melhor caminho?

 

A solução para o destino final do lixo ainda passa muito pelo aterro sanitário.

 

Sobretudo para nós do município do Rio e da Região Metropolitana, certo?

 

O município do Rio de Janeiro tem a sorte de contar com uma empresa muito bem estruturada como a COMLURB, que conta com dezessete mil funcionários, uma rede de coleta de primeira, muito abrangente. Faz coleta seletiva em boa parte da cidade, mas por problema de falta de informação e conscientização das pessoas e também dos custos associados, o índice de reciclagem de materiais não chega a 2% do total. Na região metropolitana o índice é certamente menor ainda.

 

Daí a importância dos aterros sanitários para nós?

 

Exato. No Rio estamos falando de uma produção de nove a dez mil toneladas de lixo por dia, que não pode ter outro destino senão os aterros sanitários, para evitar o surgimento de mais lixões, como aquele em Niterói, no Morro do Bumba, que levou a todo aquele problema do desabamento. No município do Rio tentou-se criar um aterro em Paciência, que acabou deslocado para Seropédica, onde foi criado um novo aterro para atender a produção crescente de resíduos. Observe que o lixo é difícil de ser reduzido num país em crescimento econômico, onde o consumo crescente das pessoas gera, naturalmente, cada vez mais lixo.

 

Nessa questão, qual deveria ser o comportamento da sociedade?

 

A mudança de paradigma de uma sociedade consumista para uma sociedade mais consciente e capaz de uma existência mais sustentável é tarefa ainda para nós e as novas gerações. Enquanto isso, temos que realizar uma gestão dos resíduos de forma a reduzir os impactos ambientais e na saúde pública, levando em conta nossos recursos econômicos e capacitação técnica disponível.

 

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Em 17/04/12 10:45 Barbara Alves disse:

O professor João Alberto está à frente, quebrando paradígmas e nos trazendo novos conceitos sobre resíduos sólidos

Em 10/09/11 22:45 Barbara Lucia Guimarães Alves disse:

Tive a honra de ser aluna do Professor João Alberto Ferreira que influenciou na escolha da minha dissertação e foi membro muito atuante da minha banca examinadora. Meu trabalho sobre a destinação de resíduos de poda reflete a importância de criação dos aterros sanitários no contexto nacional. A desconstrução do conceito tradicional de reciclagem adquirida no curso de mestrado abriu novas perspectivas para a elucidação das problemáticas relacionadas aos resíduos sólidos, passou-se, portanto, a vislumbrar novas conquistas para a destinação do lixo nos grandes centros urbanos.

Em 10/09/11 14:17 weber figueiredo disse:

É isso, professor: "A mudança de paradigma de uma sociedade consumista para uma sociedade mais consciente e capaz de uma existência mais sustentável é tarefa ainda para nós e as novas gerações."