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Diretoria de Comunicação da Uerj

Considerada um dos cartões-postais da cidade do Rio de Janeiro, a Basílica Santuário da Penha recebeu seu primeiro mapeamento 3D em outubro do ano passado. A iniciativa pioneira busca preservar a memória da igreja para futura divulgação turística, restauro e gestão de edificação. O trabalho de campo, que reuniu docentes e alunos da Faculdade de Engenharia da Uerj, além do professor visitante José Luis Lerma, da Universidade Politécnica de Valência (Espanha), foi realizado em parceria com uma empresa especializada em tecnologia, que emprestou todos os equipamentos necessários.
Os dados coletados serão apresentados no Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) da aluna Heloísa Macieira, da graduação em Engenharia Cartográfica, sob orientação dos professores Samir de Souza Oliveira Alves e Luiz Carlos Teixeira Coelho Filho. De acordo com Alves, a ideia central foi aplicar diferentes métodos de levantamento 3D para obter informações tridimensionais de toda a estrutura da Basílica, popularmente conhecida como a Igreja da Penha. Mais do que a coleta de dados, o projeto tem toda uma relevância afetiva em seu olhar.
“Nasci e cresci no bairro da Penha. Enche-me de orgulho saber que esse lugar tão simbólico para a cidade agora tem a sua memória física documentada. Digitalizar elementos arquitetônicos representa a preservação da memória a partir da reconstrução digital de patrimônios históricos”, ressalta o orientador.
Como foi feito o mapeamento 3D
Mapeamentos buscam reconstruir digitalmente a realidade. No projeto da Basílica, há a edificação da Igreja da Penha com todos os detalhes arquitetônicos, além dos objetos que compõem o espaço como o altar, imagens, entre outros elementos. A partir de diferentes métodos de levantamento é possível obter dados sobre esses elementos, como medidas, cores e texturas.

Nesse caso, o trabalho de campo contemplou quatro levantamentos simultâneos: um fotogramétrico, a partir de um drone, com o qual foram obtidas imagens de todas as fachadas para elaboração de um modelo 3D da parte externa; um por varredura com um Laser Scanner Terrestre (LST) da parte interna, com o qual foram geradas nuvens de pontos coloridos e imagens panorâmicas para a construção de navegação indoor; um GNSS (Global Navigation Satellite System), método de posicionamento que utiliza satélites para determinar a localização de um ponto, para o rastreio de pontos de apoio ao levantamento fotogramétrico; e um topográfico de alvos externos e internos.
Esse último levantamento foi fundamental para que, futuramente, seja possível unir os dados dos quatro levantamentos realizados, formando um modelo 3D completo da edificação. Em breve, os alunos da graduação de Engenharia Cartográfica poderão imprimir o modelo da Igreja da Penha em uma impressora 3D.
Legado digital de patrimônio histórico
Para aperfeiçoar o mapeamento, Heloisa Macieira contou com a força do trabalho em equipe, mobilizando nada mais do que 11 colegas do curso para ajudar a carregar equipamentos e realizar as medições. Outro grande desafio foi escolher a igreja onde o levantamento seria feito, de modo que alinhasse propósito técnico e simbólico em um só projeto.
“Pensei em uma igreja como foco de trabalho por representar a minha fé como forma de agradecimento por tudo o que ela me proporcionou. Queria um local que tivesse significado pessoal e, ao mesmo tempo, relevância cultural e histórica para o Rio. Então, a escolha da Igreja da Penha foi muito especial, pois representa a alma do subúrbio carioca”, diz a estudante, que defenderá seu TCC em dezembro deste ano.

Heloisa percebeu que a tecnologia de laser scanner tem ganhado cada vez mais espaço no mercado, especialmente após tragédias como o incêndio no Museu Nacional, em 2018. Ela observou que essa técnica poderia ter viabilizado a reconstrução completa do patrimônio, preservando a realidade do espaço. Esse episódio motivou a criação do mapeamento 3D da Igreja da Penha. “O projeto não só busca preservar o patrimônio histórico, mas também explorar uma tecnologia que pode trazer benefícios reais, como a restauração e conservação de outros patrimônios, garantindo que sejam preservados para as próximas gerações”, destaca a futura engenheira.
História de devoção e milagres
Ponto turístico e religioso, a Igreja da Penha fica no alto de um penhasco no bairro de mesmo nome, na Zona Norte do Rio. Famosa pelos 382 degraus que atraem peregrinos e pagadores de promessas, a igreja tem grande importância cultural para a cidade.
Sua construção data do século XVII e um milagre teria originado a primeira capela ali erguida. Ao ser atacado por uma serpente, o proprietário das terras, Baltazar de Abreu Cardoso, rogou à Nossa Senhora que o salvasse. Grato pelo milagre, ergueu no local uma pequena capela dedicada à santa.
A obra da escadaria foi iniciada no início do século XIX. Em narrativa popularmente difundida, a esposa de um casal com dificuldade para ter filhos, Maria Barbosa, prometeu a construção do acesso ao templo após conseguir engravidar.
As escadas só foram concluídas no ano de 1819, tornando tão conhecido o local e popularizando a prática de subir o penhasco como pagamento de promessas. Ao longo do século XX, o espaço recebeu diversas reformas e ampliações, tendo sido elevado à categoria de Basílica Santuário da Penha pelo Papa Francisco em 2016.