Engenharia Americana Depende Demais da Captação de Talentos Indianos

Criada em 12/09/2013 20:27 por maperna | Marcadores: fen geral


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Estrangeiros obtiveram 33% dos doutorados em ciência e engenharia nos Estados Unidos, mas não se sabe se tendência de influxo de cérebros asiáticos vai continuar. Portanto, confiar na atração de estudantes de fora pode até funcionar, mas apenas no curto prazo

Richard A. Skinner
Skinner é consultor sênior da firma de busca executiva em ensino superior Harris Search Associates. E-mail: rick@harrisandassociates.com

 

A confiança/dependência que os programas americanos de doutorado em engenharia desenvolveram em relação aos estudantes estrangeiros, especialmente os indianos, é um assunto relevante. As mudanças nas políticas de imigração dos Estados Unidos em 1965 deram início a um constante e crescente fluxo de estudantes asiáticos que se matriculam nas universidades americanas – sendo que a engenharia é a área de estudos que apresenta o segundo maior número de matriculados. Além disso, o número de estudantes estrangeiros aumentou dramaticamente nos programas de doutorado. Já em 2006, os estudantes estrangeiros com vistos de residência temporária obtiveram 64% do total de diplomas de engenharia, e muitos permaneceram nos EUA, frequentemente como professores. Neste último caso, esses membros do corpo docente possibilitaram que as matrículas nos cursos de graduação e pós-graduação em engenharia atingissem em 2010 o volume mais alto em 20 anos. Mas não se sabe se essa tendência ao crescimento poderá continuar.
 
Em 2006, os estudantes estrangeiros com vistos de residência temporária obtiveram 64% do total de diplomas de engenharia, e muitos permaneceram nos EUA, frequentemente como professoresA necessidade de uma capacidade maior
Nos últimos anos os mais bem classificados programas de engenharia nos EUA tiveram um aumento no número de graduandos que obtêm sucesso ao prosseguir para programas de mestrado. Mas os programas de doutorado raramente têm suas vagas esgotadas. O resultado é uma situação semelhante ao dilema da galinha e do ovo: mais professores são necessários para ensinar um maior número de estudantes de engenharia e, com isso, aumentar o número de estudantes de doutorado.
 
Uma escassez de estudantes de doutorado significa que aumentos no número de pós-graduandos em engenharia será mais difícil de ser alcançado e, portanto, haverá menos pós-graduandos domésticos interessados nos estudos de doutoramento. Os estudantes estrangeiros vêm aos EUA em busca principalmente de diplomas de pós-graduação, e não de graduação. Os estudantes estrangeiros obtiveram 24% dos mestrados de ciência e engenharia, 33% dos doutorados em ciência e engenharia e apenas 4% dos diplomas de bacharelado em 2007. Mas os estudantes estrangeiros corresponderam a 3,5% do total de matrículas nos EUA em 2010-11.
 
Por outro lado, a imigração de indianos – importante fonte de estudantes que buscam o doutorado em engenharia – deve seguir fluindo com base no persistente abismo na renda individual observado entre os dois países e pode até acelerar, com o grande aumento da população indiana na faixa etária dos 16 aos 34 anos projetado para o futuro.
 
No longo prazo, a imigração de estudantes estrangeiros para os EUA em busca de ensino de pós-graduação pode apresentar uma queda, conforme a diferença de renda entre as profissões americanas e estrangeiras for reduzidaAumento nas matrículas de engenharia
No curto prazo, as faculdades americanas de engenharia devem seguir confiando na procura dos estudantes internacionais que buscam um PhD. A maioria dos sinais indica que tal confiança é uma estratégia razoável, mas apenas para o curto prazo: as tendências demográficas na Índia indicam uma mudança no número de estudantes indianos qualificados que poderão buscar os programas de doutorado nos EUA. Por enquanto, o que ocorre é que as universidades indianas de pesquisa não avançaram com a mesma rapidez de suas equivalentes na China; assim sendo, as instituições americanas continuarão atraentes para os indianos que desejam desenvolver um trabalho de doutorado, especialmente levando-se em consideração o fato de o inglês ser idioma comum de ambos os países.
 
Um número considerável de imigrantes indianos deve continuar a vir ao país e se matricular numa variedade de áreas profissionais, incluindo os estudos de engenharia em nível de doutorado. Em 2010, mais de 60% dos indianos que receberam diplomas de doutorado em ciência e engenharia declararam seus planos de permanecer nos EUA. Mas, além do curto prazo, há dados que sugerem que confiar na vinda de estudantes internacionais pode não ser a melhor estratégia para um futuro mais distante. A Fundação Nacional da Ciência informou que, na primeira década do século, o percentual de estudantes asiáticos com intenção de permanecer nos EUA diminuiu. Além disso, se a economia de países como China, Coreia do Sul, Taiwan e especialmente da Índia se recuperarem da recessão global dos últimos anos, então o número de estudantes estrangeiros pode diminuir ainda mais com o aumento de oportunidades em seus países de origem.
 
Melhorias nas universidades de outros países, somadas à demanda por professores nos países de origem, podem tornar mais atraente permanecer no próprio país e abrir mão da imigração. Sozinha, a Índia precisará de um milhão de professores adicionais já em 2020As perspectivas para o médio prazo em relação ao aumento de matrículas nos programas de doutorado em engenharia dependem de se convencer os graduandos a buscar o PhD e o apoio financeiro disponível para os estudantes de doutorado – tanto domésticos quanto estrangeiros. A perspectiva de sucesso nem sempre é boa e, por isso, os programas americanos de doutorado terão provavelmente de seguir recrutando estudantes internacionais. Isso, por sua vez, exigirá mudanças na política de imigração. Tais procedimentos encontraram seu defensor na Parceria por uma Nova Economia Americana, uma coalizão de prefeitos e diretores de empresas presidida por diretores executivos da Microsoft e da Boeing e pelo prefeito Bloomberg, de Nova York, entre outros.
 
Seguindo um de seus principais princípios, a Parceria por uma Nova Economia Americana aumentou as "oportunidades para que os imigrantes ingressem na força de trabalho dos EUA  e para que os estudantes estrangeiros permaneçam nos EUA para trabalhar, para com isso atrair e manter os melhores, os mais brilhantes e os mais esforçados, que vão fortalecer a economia". A lei federal de imigração vai precisar se concentrar mais em facilitar a entrada e a residência de indivíduos qualificados interessados na pós-graduação em engenharia e nos empreendimentos relacionados à área, em lugar da atual preferência pela constituição de famílias, uma das marcas da política americana de imigração.
 
Se a economia de países como China, Coreia do Sul, Taiwan e especialmente da Índia se recuperarem da recessão global dos últimos anos, então o número de estudantes estrangeiros pode diminuir ainda mais com o aumento de oportunidades em seus paísesPerspectivas de longo prazo
No longo prazo, a imigração de estudantes estrangeiros para os EUA em busca de ensino de pós-graduação pode apresentar uma queda, conforme a diferença de renda entre as profissões americanas e estrangeiras for reduzida, enfraquecendo assim o incentivo econômico para a imigração. Melhorias nas universidades de outros países – especialmente nas instituições voltadas para a pesquisa, somadas à demanda por professores nos países de origem – podem tornar mais atraente a possibilidade de permanecer no próprio país e abrir mão da imigração. Sozinha, a Índia precisará de um milhão de professores adicionais já em 2020.
 
A confiança/dependência que os programas americanos de doutorado em engenharia depositam nos estudantes estrangeiros em geral e nos estudantes indianos em particular ilustra o quanto o fluxo de talento pode se tornar enviesado num único sentido com o passar do tempo. Se os estudantes não tivessem imigrado para os EUA em número tão grande a partir dos anos 60, buscando doutorados em engenharia e permanecendo no país, é difícil imaginar como a área poderia ter crescido e feito uma contribuição tão substancial para empreendimentos como o programa espacial americano, avanços na computação e melhorias no uso da energia.
 
Entretanto, em se tratando da possibilidade de empreendimentos semelhantes no futuro, tendo em vista que os programas americanos de engenharia podem não contar com um grande número de estudantes domésticos ou estrangeiros bem qualificados, a busca pelo doutorado é o problema-chave.

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Em 12/09/13 21:20 alvaro antonio rocha ferreira disse:

Excelente reportagem!