por Soraya Misleh Somente para dar conta das demandas no setor petrolífero, serão necessários até 170 mil profissionais qualificados para atuar diretamente. Indicado pelo professor da UFF (Universidade Federal Fluminense) e consultor Marco Aurélio Cabral Pinto, o dado consta da versão atualizada do projeto “Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento” – lançado em 2006 pela FNE. Quando confrontado com a quantidade de concluintes na graduação em engenharia, evidencia a necessidade de ampliar esse número, caso o objetivo seja desenvolver o Brasil. Segundo o censo de 2008 do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), vinculado ao MEC (Ministério da Educação), formam-se anualmente, nos 2.032 cursos oferecidos em âmbito nacional, cerca de 40 mil profissionais da categoria (excluídas da estimativa oficial as arquiteturas) e ingressam em torno de 140 mil. A um projeto nacional sustentado, o déficit anual é de 20 mil, aponta o coordenador estadual do Conselho Tecnológico do Seesp e diretor eleito da Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo), José Roberto Cardoso. Para ele, portanto, seria possível atender a demanda em termos de recursos humanos apenas retendo os estudantes que entram nas faculdades periodicamente. “É preciso melhorar o rendimento das escolas.” Paulo Roberto Wollinger, diretor de regulação e supervisão de educação superior do MEC, explica o porquê do alto índice de desistência, em especial nos dois primeiros anos – em que se situa entre 60% e 70%: “É o chamado ciclo básico dos cursos de engenharia. Há uma carga imensa de matemática, física, química, muito cálculo, álgebra, teoria.” Conforme sua informação, hoje no mundo já se aponta para uma mescla, em que se distribua o conteúdo relativo ao primeiro biênio ao longo do curso e se inicie já com alguma formação profissional. “Naqueles projetos pedagógicos que contemplam isso, a taxa de sucesso é bem maior.” Cardoso pondera: “Acho possível, mas manteria o primeiro ano como básico.” Não obstante constate que o problema vem do ensino médio, o que faz com que o aluno vá para a universidade sem preparo efetivo em exatas, ele acredita que rever esse cenário vai demorar muito tempo. Enquanto isso, apresenta outra sugestão: garantir acompanhamento maior e mais próximo ao aluno e inclusive reforço extraclasse nas matérias em que esse tenha deficiência. João Sérgio Cordeiro, presidente da Abenge (Associação Brasileira de Ensino de Engenharia), lembra que tal experiência se mostrou exitosa em outras partes do globo, como nos Estados Unidos. Propõe melhor preparo dos professores para lecionarem ao estudante com algum grau de dificuldade nas disciplinas básicas. “Nas grandes universidades, são oferecidas por profissionais dessas áreas, que, muitas vezes, imprimem uma dosagem como se fossem formar físicos, químicos e matemáticos. E o aluno não consegue enxergar o tipo de aplicação. Vê a conceituação e não entende o porquê. Assim, cerceamos a motivação na faculdade, pois não fica clara sua importância.” Na concepção dos dois especialistas, atividades complementares e visitas técnicas poderiam auxiliar nisso. Paralelamente, um bom caminho, na visão do presidente da Abenge, seria fazer com que a engenharia fosse ao ensino médio, de modo a incentivar para a escolha da profissão. A FNE aprovou um trabalho nesse sentido, previsto para ter início em 2010. Pretende levar aos estudantes informações sobre as cinco grandes áreas – civil, elétrica, mecânica, química e agronomia –, ao que elaborou um vídeo intitulado “Mais engenheiros para construir o Brasil”. A apresentação inclui, em cerca de 20 minutos, entrevistas com graduandos e profissionais bem colocados no mercado falando sobre as atribuições em cada modalidade, o ensino e perspectivas futuras. Com isso, a expectativa é mudar o quadro atual, apontado por Cordeiro, em que o Brasil tem apenas 1,5 estudante de engenharia por mil habitantes. Formação para o desenvolvimento Apesar de áreas de ponta como petróleo e gás, mineração e siderurgia enfrentarem a falta de profissionais, a principal carência encontra-se na modalidade civil, afirma Cardoso. Haruo Ishikawa, vice-presidente do Sinduscon-SP (Sindicato da Indústria da Construção Civil de São Paulo) responsável pelas relações capital-trabalho, ratifica: “Com o programa governamental Minha casa, Minha vida, deu-se o grande movimento de expansão. O setor já retomou o crescimento.” E acrescenta que a demanda é por engenheiros mais qualificados para a área. Para fazer frente a ela, segundo explicita, as grandes construtoras têm procurado capacitar quarto e quintoanistas no canteiro de obras. O estagiário, ao se formar, é contratado. Para dar conta dessa questão, relacionamento universidade- -empresa é crucial, como aponta o “Cresce Brasil” – que sugere ainda uma pós-graduação tecnológica, voltada à atuação no mercado. Para José Roberto Bernasconi, presidente do Sinaenco (Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva), há problema tanto de formação adequada quanto de vagas disponíveis no ensino superior. “É necessário um turbe force na educação. O Brasil, que é visto como a bola da vez e reúne condições quase inigualáveis, tem que fazer enorme esforço nessa direção.” Ele continua: “Para superar o gap na infraestrutura, precisa de engenheiros, e já está se importando essa mão de obra.” Faz-se mister, portanto, uma política pública voltada para isso e a conscientização da sociedade. De acordo com Marcos Formiga, coordenador do programa “Inova Engenharia”, da CNI (Confederação Nacional da Indústria), o Brasil descuidou-se disso. Consequentemente, na engenharia, a presença é das mais baixas do mundo: 11%, enquanto nos países do Cone Sul está próxima a 30%. E nos desenvolvidos, chega a 80%. “Tem que repensar a matriz de formação dos recursos humanos em ensino superior de maneira urgentíssima.” Ainda na sua opinião, o setor produtivo deve fazer sua parte. “O profissional precisa ser melhor valorizado na indústria.” Fonte: FNE - Federação Nacional dos Engenheiros |
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| Em 26/01/10 19:18 Aline disse:Se diminuíssem ou excluíssem de vez as chopadas na Engenharia, talvez sobrassem alguns neurônios para as aulas de cálculo, álgebra e teoria. Claro também se os professores quisessem dar aulas e não ficarem pesquisando somente. Mas é mais fácil diminuir o conteúdo, isso não vai prejudicar a qualidade dos futuros engenheiros, imagina na Petrobrás, Eletronuclear, Construção Civil...você confiaria? |