Seção Opinião: O Globo
MISSÃO
Weber Figueiredo
Todos concordam que a Universidade pública deva estar comprometida com a qualidade do ensino e da pesquisa. Mas prover excelência na maioria das áreas de conhecimento exige recursos quase sempre indisponíveis.
No Brasil, o aperto é geral, exceto para os grandes capitais. Uma vergonha, pesquisadores ficarem disputando verbas para trabalharem como se fosse um grande favor receber as migalhas oficiais.
Um governo comprometido com a real melhoria da qualidade de vida no país traria à Universidade as verbas necessárias para o progresso da cultura, ciência e tecnologia. Se não o faz, é porque está interessado apenas em manter-se na gostosura do poder, e não no progresso da nação.
Dizem que os culpados pela vida difícil são a corrupção, a roubalheira, os políticos malandros e a impunidade, mas essa é a parte visível do iceberg. Temos que ir mais a fundo.
Questões sociais, ambientais e comportamentais, dependências econômica, cultural e tecnológica, desemprego, criminalidade e baixos salários estão todas interligadas.
A classe dirigente brasileira tem sido completa e inteiramente incapaz de liderar qualquer projeto autônomo de desenvolvimento, com crescimento sustentável e distribuição justa de recursos.
As causas são muitas, a começar pelo financiamento de campanhas políticas que elege gente comprometida apenas com negócios particulares.
No vácuo de iniciativas construtivas, qual seria o verdadeiro compromisso social da Universidade brasileira? Em primeiro lugar, formar bons profissionais que possam ser úteis ao desenvolvimento do país.
Em paralelo, a Universidade deve contribuir com idéias e propostas para o enriquecimento do país. Ela deve estar comprometida com o desenvolvimento.
Observamos que sempre houve idéias setoriais vindas de pessoas ou departamentos isolados. Mas isso não basta, porque o processo de desenvolvimento se faz com ações integradas, numa visão holística, a começar pelo comportamento do próprio ser humano.
Por exemplo, crianças educadas para a submissão talvez se acomodem mais facilmente à idéia de uma nação colonizada. E nação colonizada se acomoda à dependência, que produz dívida, desemprego e fome.
Embora a Universidade não tenha poder de decisão política, ela tem o poder do conhecimento acumulado pela Humanidade, que pode subsidiar a formulação de propostas que visem à evolução da nossa sociedade.
Acredito que a Universidade pública brasileira também deva se preocupar com essa missão, até por uma questão de sobrevivência.
O Globo, 27/6/2005
Fonte: Weber Figueiredo / Jornal O Globo |
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| Em 06/01/10 13:54 María Elena Iannarelli disse:Está muito bom!!! Excelente Professor Weber. Falar mal das Universidades Públicas é muito fácil,o papel aceita tudo. No entanto ,que fazem para ajudar? Atenciosamente María Elena |