O Que Vem Acontecendo Com a Engenharia de Projetos?

Criada em 06/04/2009 20:30 por mmc | Marcadores: art evento fen prof

http://www.abceconsultoria.org.br/news/news10.htm

ENGENHARIA NACIONAL

O que vem acontecendo com os profissionais de engenharia de projetos? Comenta-se sobre as dificuldades que as empresas prestadoras de serviços estão tendo para cumprir seus contratos, que a qualidade do serviço é péssima, que não existem mais os bons profissionais de antigamente etc.

Esses e outros comentários vão se confirmando nos projetos mal pensados, na dificuldade para encontrar profissionais experientes, nas garantias e seguros que se vão exigindo nos contratos, na lista de empresas tradicionais que já sumiram do mercado e no surgimento, em profusão, das "Fulano & Beltrano Engenharia Ltda.".

Em nosso país, a história da engenharia de projetos industriais teve início com o anseio nacional de não mais importar engenharia embutida nos equipamentos. Nos anos 60 surgiram primeiras iniciativas. O grande investidor e comprador dessa engenharia foi o Estado. Pagava-se tudo a bom preço. Muitas empresas se formaram. Pessoas foram treinadas e dignamente remuneradas. Essa fase atingiu seu ápice ao final da década de 70.

Encerrado esse ciclo, ficou a sensação de que fazer engenharia estava ficando muito caro.
Nas décadas de 80 e 90, com os recursos mais escassos, buscou-se uma forma de medir a produção da engenharia.

Sem melhor opção passou-se a medir a engenharia medindo-se a produção de desenhos. Com isso, chegamos ao estágio atual: mede-se, compra-se e vende-se engenharia pela quantidade de horas ou de papel produzido: os desenhos. Essa forma, naturalmente, produziu efeitos negativos na qualidade. Para melhorá-la optou-se então pela fiscalização, optou-se por investir no gerenciamento. Mas, como só fiscaliza ou gerencia bem quem sabe fazer, para essas atividades são contratados os profissionais mais experientes.

Com isso observa-se que, via de regra, o conhecimento daquele que sabe não está sendo usado para fazer, nem para ensinar, mas para pressionar aquele que, assustado, está começando a aprender. Como esse tipo de fiscalização ou gerenciamento, obviamente, também já mostra sinais da sua ineficiência, volta-se a pensar em comprar a engenharia embutida nos equipamentos "empurrando o fardo" para seus fornecedores. Fica mais barato – dizem.

Assim, na prestação de serviços de engenharia, estamos quase retornando aos idos de 1960! Isso mostra, de forma inequívoca, que se está atuando nos efeitos e não nas causas. Necessário é, pois, repensar os conceitos e fazer distinção entre engenharia e desenhos de engenharia.

Produzir desenhos é tarefa mecânica. Produzir engenharia é atividade essencialmente mental intelectual. A máquina de engenhar, de produzir idéias, é a mente humana.
Os softwares dessa máquina são os conhecimentos obtidos em muitos e demorados "downloads" nos "sites" da vida profissional e a matéria prima dessa fábrica de idéias é a informação.

Para produzir soluções de engenharia trabalham-se as informações com os conhecimentos que se tem, conhecimentos estes adquiridos em projetos passados, em experiências vividas. Se a informação, tal qual o conhecimento, é incompleto ou ruim, a solução o será na mesma proporção e qualidade. Até chegar a ser solução, uma idéia precisa ser processada, modificada, re-processada e confirmada por cálculos, esboços, gráficos etc.

E é ao longo desse processo que o profissional se capacita e dá soluções rápidas e eficazes aos diversos problemas. O verdadeiro produto da engenharia não é o desenho, é a solução. Sem ela não há o que desenhar e nem o que construir. O desenho é, por assim dizer, apenas a embalagem do produto, a imagem da idéia concebida na mente de um engenheiro. Por isso, pode-se dizer que remédios receitados pelos engenheiros são entregues em caixinhas nos vários tamanhos padrão - ABNT: do A0 ao A4. E, hoje,
o computador pode colocar qualquer remédio em qualquer uma dessas caixinhas, e até em menores do que essas.

Como medir isso? Como medir a produtividade de um engenheiro? Como valorizar a experiência acumulada na mente de um profissional? Pela quantidade de desenhos (caixinhas) produzidos com suas idéias?! Como uma empresa capacitará e manterá novos profissionais? "Inventando" caixinhas desnecessárias para ser mais bem remunerada? A realidade do mercado tem mostrado que vender caixinhas não é bom negócio. Aliás, financeiramente o bom negócio agora é pressionar (ou fiscalizar?) os que ainda não sabem nem fazer as caixinhas e nem o que colocar dentro delas.

Enquanto a solução não vem, será bom fazer uma pausa na maquinação de contratos tão deprimentes que tiveram seu ápice nos infames leilões reversos. Será bom não colocar para concorrer na mesma raia o engenhar e o desenhar.

Será bom que os profissionais experientes não se limitem a pressionar sem ensinar. Será bom que as Escolas de Engenharia se aproximem sem ocupar o espaço das Empresas e que introduzam em seus currículos uma disciplina que ensine o aluno a pensar, a usar esse fabuloso e ainda desconhecido mecanismo mental humano. Será bom que os que estão começando na profissão, dispondo já dos recursos da informática, tenham com quem aprender a pensar, a engenhar soluções: coisas que o computador não faz. Será bom que esses novos profissionais não confundam saber fazer engenharia com saber usar um bom software de engenharia.

Finalmente, será muito bom que os mais novos aprendam a pensar para que não usem o computador para produzir caixinhas de surpresas.

Fonte: Professor Pallotino, CEPER/FEN/UERJ

Professor(es) ou profissionais da FEN-Uerj relacionado(s) com esta notícia


João de Tarso Pallottino,


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Em 22/01/14 09:31 Thales José Mendes disse:

Sou profissional de estruturas e professor na área de projetos estruturais. Comento, sempre, a respeito do "pensar" com os meus alunos, pois existe a idéia errada que o profissional que sabe manusear o software sabe engenhar. Parabéns pelo artigo e precisamos mudar a cabeça dos profissionais que estão formando em engenharia.

Em 15/05/13 02:15 Péricles disse:

Amigos, tudo bem? Inicialmente, parabéns pelo texto. Descordo que há falta de pessoas qualificadas. A verdade é notória. As empresas preferem colocar um cara "meia boca" pra pagar menos e manipular mais... do que contratar um cara bom. Pô eu quero nego bom na minha equipe. Pelos trabalhos acadêmicos de graduação e POS na área de projetos e engenharia, que tenho lido, ou participado em bancas julgadoras, estão, sem metodologia, muito mal escrito e não agregam em nada, conhecimento e desenvolvimento pro país e pra sociedade. Então que sofram com essas escolhas! Porque ter dó? Enquanto os grupos e o governo ganham milhões, os intelectuais e estudiosos estão ganhando muito mal e são as maiores vítimas de toda essa situação!

Em 05/05/13 19:59 Dalmo disse:

Professor Pallotino A vantagem de estar velho, é ter visto muitas coisas, ter lido muitos artigos e ler mais um entre tantos outros que falam a mesma coisa. Seu Texto só tem um problema. No meu tempo de aprendizagem, se falava ENGENDRAR, e não engenhar, que nem sei se existe este termo, já que como engenheiro não sou dado à profundos conhecimentos da língua portuguesa. Sim o Correto é Engendrar, um engenheiro engendra. Numa coisa o seu texto tem razão, hoje em dia as empresas não sabem mais comprar conhecimento, querem é; comprar papel, por isso que muito prédio cai, puita máquina não funciona e por aí vai. Estamos sim numa crise de conhecimento e o fato de não ter mais quem ensine a fazer,(os americanos difundiram isso com o termo KnowHow) é que as empresas nem sabem e não tem quem lhes diga o que é preciso fazer para desenvolver um novo projeto Sobra para as universidades fazer o papel de conhecedor da tecnologia. Também não é preciso inventar um novo curso nas faculdades de engenharia para ensinar aos alunos como se pensa, o que precisa é voltar a ter vestibulares como antigamente, e manter o curso em alto nível, porque, as matérias dos cursos de engenharia já o fazem isso, ensinam a pensar. Boa Sorte

Em 05/05/13 19:56 Marcelo disse:

Muito oportuno. O pior de tudo são grandes empresas que se disfarçam de bastiões da engenharia avançada mas apenas cuidam da burocracia e importam toda a engenharia da Europa e USA. E o pior de tudo é que os ditos "engenheiros" dessas empresas se auto entitulam "Especialistas", de boca cheia. Honestamente, não sei onde vamos acabar.

Em 05/05/13 19:19 Leonardo Gimenes disse:

Perfeito... Artigo e comentários.

Em 23/11/10 09:48 Marcos Savio disse:

Status da engenharia aplicada no Brasil. Atualmente, com exceções os projetos são apresentados com fundamentação em softwares e em detrimento a experiência. Não e aplicada engenharia critica a luz de experiência, emitem-se relatórios variados alem do PMO e o suprimento quase sempre tem o custo como prioridade.

Em 24/04/09 10:11 Paulo F. R. Guimarães disse:

Texto atualíssimo e relevante. Porém, vivemos uma era de mediocridade (mediana) assustadora. Atualmente, via de regra o cliente é "investidor financeiro" e só faz a tal "engenharia financeira". Nem sabe o que é a ENGENHARIA REAL. Só conhece "está caro"; "está atrasado"; "antecipação"... No fim o resultado é o que estamos vivendo: faltam profissionais realmente qualificados, falta ética e faltam perspectivas sérias...

Em 07/04/09 15:03 MARIO CESAR BARROSO JUNIOR disse:

Artigo excelente .

Em 07/04/09 09:01 Ikeciel Kiperman disse:

Muito bom e relevante o texto. Como caminhar na direção proposta? Atentar que "saber fazer" é atributo de que já "fez" muitas vezes e aprendeu fazendo, com ou sem o auxilio dos computadores como ferramenta de trabalho. Se a tonica de qualificação dos professores da FEN se baseia na valorização dos títulos de mestrado ou doutorado, como ensinar "saber fazer" com quem nunca ou pouco "fez"? Dilema de sempre: profissionais professores ou professores profissionais?

Em 06/04/09 22:39 Weber Figueiredo da Silva disse:

Professor Pallotino Muito bom o artigo que vc. nos repassou. Gostaria de saber o autor. abs Weber