Reproduzimos matérias publicadas no CLIPPING UERJ. Preso, mas com curso superior - Extra Extra - O Assunto É/ Educação - pg. 03 - 21/8 De dentro das cadeias, detentos vão cursar faculdades de pedagogia, administração e informática "A única maneira de sair daqui recuperado é ocupar a mente e ter uma profissão para exercer na rua. Caso contrário, só resta voltar para o crime que te trouxe aqui para dentro". A frase é de Daniel Esteves, de 30 anos, preso há três anos por tráfico de drogas e resume a importância do projeto de ensino superior à distância, da Secretaria de Administração Penitenciária, em parceria com a Fundação Centro de Ciências e Ensino à Distância do Rio. A novidade será colocada em prática em 2007 e vai trazer universidades como Uerj, UFF, Uenf, UFRJ, UFRRJ e UniRio para dentro do sistema prisional. No primeiro ano serão oferecidos os cursos de pedagogia, administração e informática, mas a idéia é expandir o projeto e incluir novas carreiras. Ao fim do curso, os presos vão receber o mesmo diploma do Ministério da Educação (MEC) emitido para os estudantes que freqüentam as universidades. Garantia dos direitos - Esta é uma oportunidade real de construir um futuro melhor. Não adianta ter o direito só no papel e não na prática - disse o preso. De acordo com o projeto, os presos terão acesso a todo o material impresso e vão receber visitas regulares de professores para tirar as dúvidas. Além disso, os detentos poderão acessar o material didático disponível na internet. A navegação, no entanto, ficará restrita aos sites liberados pela secretaria. Traficante do Jacarezinho quer dar aulas Aproveitar o tempo dentro da cadeia para estudar, obter um diploma e aumentar as suas chances no mercado quando ganhar a liberdade. Este é o sonho de um número cada vez maior de presos. Este ano, 226 detentos do sistema prisional do Rio se inscreveram no vestibular da Uerj para tentar uma vaga nos cursos da universidade. Entre eles está Márcio José Guimarães, o Tchaca, de 40 anos. Considerado pela polícia o bandido mais sanguinário do início da década, Tchaca foi preso em janeiro de 2002, em Angra dos Reis, e condenado a 15 anos de prisão. Agora, o bandido pretende ser professor. Preso na penitenciária de segurança máxima Laércio da Costa Pelegrino (Bangu 1), Tchaca fez as provas para o curso de pedagogia na Escola Estadual Professor Carlos Costa, que fica em Bangu 3. Muitos candidatos Assim como já aconteceu com outros detentos, mesmo que aprovado, Tchaca só poderá cursar a faculdade se conseguir ser transferido para o regime semi-aberto. A Penitenciária Pedrolino de Oliveira, destinada a ex-policiais militares, civis, bombeiros e agentes penitenciários, foi a unidade que inscreveu o maior número de presos para as provas de vestibular deste ano. Além do fato - Emir Sader, sociólogo Foi preciso explodir a crise da dívida, no começo dos anos 80, para que nos déssemos conta de que estamos no mesmo barco, no mesmo continente, com um destino comum. Ainda assim, a duras penas avançamos nas conseqüências dessa tomada de consciência. Ainda há um candidato presidencial - da direita, claro - que prega abertamente o abandono da diplomacia Sul-Sul, que considera uma bobagem, para sua mentalidade voltada para as potências globalizadoras. Nesta semana o Brasil - e, em especial, o Rio - será sede de dois eventos importantes para o avanço da integração do Brasil na América Latina. O primeiro é a Assembléia Geral do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (Clacso), com seminários e outras atividades conexas, a realizar-se na Uerj e no Hotel Glória, entre os dias 20 e 25. O principal evento paralelo é um seminário com o tema "Herança, Crise e Alternativas ao Neoliberalismo", com a participação, entre tantos outros, de Pablo Gonzalez Casanova, Boaventura de Souza Santos, Atílio Boron, Ana Esther Ceceña e João Pedro Stédile. No dia 25, no Teatrão da Uerj, se dará o encerramento solene das atividades, com a entrega do título de doutor honoris causa a don Pablo Gonzalez Casanova, um dos maiores pensadores que a América Latina produziu, com a publicação de uma de suas obras-mestras, As novas ciências e as humanidades - da Academia à política. A Assembléia de Clacso renovará sua direção, elegendo o novo secretário-executivo, em substituição a Atílio Boron. (Devo mencionar, modestamente, que sou candidato a, pela primeira vez, o Brasil ocupar esse cargo). Ao mesmo tempo será lançada uma obra fundamental para a compreensão da trajetória, das identidades e das perspectivas do continente: Latinoamericana - enciclopédia da América Latina e do Caribe (Boitempo Editorial). Um volume de 1.500 páginas que busca resgatar a história do continente em duas determinantes básicas. Uma obra que abarca o último meio século, abrangendo uma parte do período chamado de "desenvolvimentista", passando por todo o de hegemonia neoliberal, até chegar a este momento de questionamento deste modelo e luta pelo pós-neoliberalismo. O sentido da obra é o de resgate de um continente que havia sido relegado a ser praticamente um conjunto de bolsas de valores, de campos de especulação financeira e de privatização de patrimônios públicos. Que havia sido privado de sua história, de todas as distintas dimensões que constituem sua riqueza econômica, social, política, cultural. A Enciclopédia está composta por verbetes sobre todos os países do continente - grandes, médios e pequenos - assim como por temas essenciais - da economia à ecologia, da literatura à gastronomia, dos movimentos sociais à diversidade cultural - mais verbetes sobre personagens de todos os mundos que constituem este mundo latino-americano e caribenho. Sairemos assim desta semana um pouco mais latino-americanos. Se você tiver um problema com o seu vizinho de porta, o ideal é resolvê-lo sem recorrer ao síndico. Se a questão é no condomínio, o correto é levá-la ao síndico e não à administração regional de seu bairro. Se o problema for do bairro, recorra-se à administração e não à prefeitura. Caso seja da cidade, para que recorrer ao governador, se existe a figura do prefeito, que ganha para isso? Da mesma forma, se as dificuldades são em um Estado, deve-se buscar o governador e não o presidente do país. Estas regras básicas, que são respeitadas em todas as sociedades razoavelmente organizadas, compõem o Princípio da Subsidiariedade, a pedra angular do federalismo, da limitação do poder do Estado e da liberdade individual. O referido princípio baseia-se na idéia de que é moralmente perigoso retirar-se a autoridade e a responsabilidade inerentes à pessoa humana, para entregá-la a um grupo, porque nada pode ser feito de melhor por uma organização maior e mais complexa do que pode ser conseguido pelas organizações ou indivíduos envolvidos diretamente com os problemas. A subsidiariedade decorre de três importantes aspectos da própria existência humana. O primeiro é a dignidade da pessoa humana, que decorre do fato de termos sido criados à imagem e semelhança do Criador. Assim, remover ou sufocar a responsabilidade e a autoridade individuais equivale a não reconhecer suas habilidades e sua dignidade. O segundo é a complexa questão da limitação do conhecimento, soberbamente analisada por Hayek e outros estudiosos. Como o conhecimento na sociedade é incompleto e apresenta-se sempre espalhado desigualmente, a negação do princípio da subsidiariedade, que ocorre quando as soluções dos problemas são passadas para o Estado ou para organizações hierarquicamente superiores, na prática, acarreta uma ilusão de ótica, uma crença em um olho central, que pode enxergar todas as coisas, conhecer todas as necessidades e demandas individuais, regular os setores envolvidos a contento e solucioná-las da forma socialmente correta. Ora, o planejamento central sempre fracassou e haverá de fracassar, exatamente porque esse olho não apenas não existe mas principalmente porque jamais poderá existir. Por fim, o terceiro aspecto que justifica a prática da subsidiariedade é a solidariedade com os pobres e menos favorecidos, simplesmente porque essas pessoas são mais do que meramente a sua própria pobreza, por espelharem a imagem divina e a dignidade disto decorrente, a despeito de suas carências materiais. Os programas governamentais, como os que o atual governo vem desenvolvendo, mesmo que fossem de fato bem intencionados e pudessem ser bem executados, só são capazes de enxergar as necessidades materiais. Além disso, os engarrafamentos quilométricos provocados pela burocracia, somados à insuficiência de conhecimento total dos problemas, impedem esses programas de atenderem a todas as necessidades das pessoas humanas. Como a pobreza se manifesta de várias formas, bastante complexas e às vezes muito distantes da mera falta de bens materiais, quem vive mais perto dos necessitados está necessariamente mais bem posicionado, em termos de conhecimento, não apenas para ajudar a resolver as necessidades materiais mas para dar um tratamento mais adequado às demais. Nas palavras da bem-aventuras madre Teresa de Calcutá, solidariedade significa que "o rico salve o pobre e o pobre salve o rico", uma vez que ambos tendem a ganhar com sua interação. A erradicação da miséria e o alívio da pobreza, em sua forma correta, não são unidirecionais, porque levam ambos - o que doa e o que recebe - a serem abençoados. Tais reflexões parecem-me importantes, pois a República Federativa do Brasil só é federativa na fachada, vez que temos o péssimo hábito - secular e cultural - de cultivar a centralização política, econômica e administrativa. Quarta idade é discutida em congresso no Rio Conceito estudado por pesquisadores do envelhecimento, a quarta idade - atribuída geralmente a idosos maiores de 80 anos, com limitação funcional - é considerada por médicos e gerontólogos o novo desafio na área de saúde pública nos próximos 20 anos. O tema será um dos assuntos abordados no Congresso Internacional de Saúde Pública, realizado de hoje até sexta-feira, no Riocentro. Vice-diretora da Universidade Aberta da Terceira Idade (Unati/ Uerj), a pesquisadora Célia Caldas expõe seu trabalho sobre a quarta idade na quarta-feira. E alerta que é preciso chamar a atenção de médicos e de políticos sobre a urgência de garantir melhores condições de atendimento aos mais longevos. A discussão é resultado do crescimento da expectativa de vida, fruto dos avanços da medicina. Hoje, a realidade impõe políticas sociais dedicadas ao idoso de idade avançada. "O número de idosos na quarta idade esta crescendo no Brasil, e esse aumento será mais acentuado no grupo de pessoas com idade acima de 80 anos. Como preparar as famílias e o serviço público de saúde para atendê-los? A situação destes idosos frágeis é problemática”, lembra Célia, que destaca a informação a familiares, o atendimento domiciliar a esses idosos e o investimento público na formação de profissionais como medidas-chave para atender à demanda da população madura. "É preciso oferecer informação aos parentes com a criação de programas de suporte médico. O atendimento em casa, por exemplo, seria fundamental, além de mais especialistas na área de gerontologia e geriatria': sugere a pesquisadora. Dez profissionais brasileiros vão apresentar trabalhos sobre terceira idade - como sexualidade masculina, obesidade e atividade física nos cinco dias de evento. O Congresso, promovido pela Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (Abrasco), vai reunir cerca de 10 mil profissionais, e mais de nove mil trabalhos na área de saúde serão apresentados no simpósio. O Brasil já tem uma lei específica para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher. A Lei 11.340/06, sancionada pelo presidente Lula, dá cumprimento, finalmente, à Convenção de Belém do Pará, da OEA, ratificada pelo Estado brasileiro há 11 anos. O Brasil é o 18° país da América Latina a ter uma lei dessa natureza. Pesquisa realizada pela Organização Mundial da Saúde, 2005, revela que quase um terço das mulheres (27%), em São Paulo (capital) já foram agredidas por seus parceiros. Na Zona da Mata (PE), esse percentual sobe para 34%. A violência doméstica é a expressão mais perversa do desequilíbrio de poder entre homens e mulheres e um grave problema mundial. No seu rastro, estão índices expressivos de absenteísmo ao trabalho, a feminização da Aids e o baixo aproveitamento escolar de crianças. A nova lei altera o Código Penal, prevê a prisão em flagrante ou prisão preventiva, se houver ameaça à integridade física da mulher. Acaba o pagamento de cestas básicas. A violência doméstica é tipificada como forma de violação dos direitos humanos. Os crimes serão julgados em Juizados de Violência Doméstica, no âmbito dos estados. A lei cria inéditas medidas de proteção para a mulher em risco de vida: afastamento do agressor do domicílio e a proibição de sua aproximação física junto à mulher agredida e filhos. O texto legal foi proposto por ONGs, reformulado por um grupo de trabalho interministerial, coordenado pela Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres e enviado pelo governo federal ao Congresso Nacional, onde teve aprovação unânime. Ministra da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres Teste do GLOBO mostra como trânsito deixa bairros mais distantes que cidades vizinhas Sem fazer as malas, a sensação de milhares de pessoas que se deslocam, diariamente, de outros bairros para o Centro do Rio é que embarcaram numa longa viagem de ônibus rumo ao interior do estado, tamanho é o tempo gasto em trajetos sem sair da cidade. Situação inversa vivem moradores de municípios vizinhos, que vêm de coletivo para o Rio em percursos muitas vezes maiores: saem em horários semelhantes ao de passageiros cariocas e conseguem chegar mais rapidamente ao destino, como se estivessem transitando de um bairro para outro. O tempo perdido por um passageiro para ir de ônibus, à tarde, do Leblon até a Central, por exemplo, chega a ser quase três vezes maior que o gasto por alguém que sair de Duque de Caxias com o mesmo destino. Durante uma semana, repórteres do GLOBO fizeram testes no trânsito. Embarcaram, ao mesmo tempo, em dois ônibus: um que saía de um bairro da capital e outro de um município vizinho, ambos com destino ao Centro do Rio. As cidades da periferia escolhidas estavam a uma distância do Centro igual ou maior à quilometragem registrada a partir dos bairros. Leblon-Centro em quase 1 hora e meia O teste mostrou que quem saiu da Avenida Visconde de Albuquerque, no Leblon, às 15h17m, na terça-feira, no ônibus 132 (Leblon-Central), levou uma hora e 23 minutos para chegar à Central. Partindo de Caxias, no mesmo dia, às 15hO4m, foi possível desembarcar 31 minutos depois na Central. Em ambos os casos, foram percorridos cerca de 20km. Só que o carioca viajou a uma velocidade média de 15km/h, enquanto o caxiense, de 43,5km/h, fora do rush. - A sensação de distância das pessoas é muitas vezes medida pelo tempo gasto. Sempre que demoramos para chegar a um ponto, acreditamos ter percorrido uma longa distância, quando, na verdade, foi o tempo que passou - explica a física Carolina Cronemberger, do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas. Os nós no trânsito, observados no percurso Leblon-Central, ocorreram sobretudo em toda a Rua Visconde de Pirajá (lpanema) e na Avenida Nossa Senhora da Copacabana, entre as ruas Francisco Sá e Figueiredo Magalhães. Nessas duas vias, táxis e vans paravam em pontos de ônibus, enquanto estes pegavam passageiros no meio da pista. A seletiva para coletivos na Nossa Senhora de Copacabana, criada em 1985, é hoje só um marco físico. Já de Caxias para a Central o trajeto é tranqüilo pela Linha Vermelha. Há apenas um pequeno congestionamento próximo à Central: - O ônibus é rápido, mas tem vezes em que prefiro pegar uma van. É ainda mais rápida - diz a enfermeira Marinalva Pinheiro, de 47 anos, que seguia de Caxias para o Rio. Na sexta-feira, um ônibus da linha 170 (Gávea-Rodoviária) gastou uma hora e cinco minutos para percorrer 17km até a Rodoviária Novo Rio. A viagem começou às 8h51m, em frente à Praça Santos Dumont, na Gávea. Durante o percurso, houve retenções nas ruas Voluntários da Pátria (Botafogo), Senador Vergueiro (Flamengo), na Avenida Presidente Antônio Carlos e na Rua Primeiro de Março, no Centro. Poderia ter sido pior: - Já levei uma hora e meia para chegar à Presidente Antônio Carlos. Hoje (sexta) o trânsito está até bom. Para passar o tempo, sempre trago um jornal ou uma revista para ler diz a passageira Eliane Barcelos. Também na sexta-feira, partindo de Niterói, às 8h48m, um ônibus da linha 100 (Niterói-Castelo) levou 46 minutos para chegar à Rodoviária Novo Rio. O trajeto de 16,l km poderia ter sido feito num tempo menor em relação ao trecho Gávea-Rodoviária, não fosse o longo congestionamento na Ponte Rio-Niterói. Somente da saída da ponte até a rodoviária, o coletivo levou cerca de 15 minutos. Barra parece mais longe que Maricá Da Barra até o Castelo, na terça-feira, um ônibus percorreu em uma hora e meia os 34,3km do trajeto, passando por Leblon, Ipanema e Copacabana, além de Aterro do Flamengo. A viagem começou às 8h36m. De Marica para o mesmo destino no Rio, a viagem durou uma hora e 54 minutos (24 minutos a mais), porém o trajeto foi quase o dobro: 66,5km. O trânsito estava engarrafado na Alameda São Boaventura (Niterói), com retenções na Ponte Rio-Niterói. O ônibus levou 40 minutos para percorrer o trecho entre a descida da ponte e o Castelo. Tamanha distância não incomoda o técnico de som Pedro Sander, que não abre mão de morar em Maricá e vem ao Rio, diariamente, para estudar: - Às vezes vou em uma hora e 15 minutos até a faculdade, no Centro do Rio. Gasto mais tempo às vezes para ir do Centro à casa da minha namorada, em São Conrado. Não vale a pena me mudar para o Rio. No interior temos mais qualidade de vida. Entre a Barra e o Castelo, os passageiros aproveitam a longa viagem do jeito que podem. Luciana Monteiro, de 27 anos, tira um cochilo até a Visconde de Pirajá, onde trabalha. Jã o estudante de música Daniel Said afasta o sono: - Como a viagem demora, trago café e às vezes lanche para o ônibus. A professora Renata Gonçalves chega a puxar a cortina da janela do ônibus 1131 (Santa Cruz-Castelo) para dormir mais à vontade. No trecho entre Santa Cruz e a Rodoviária Novo Rio, na quarta-feira, a viagem de 66km, num coletivo expresso (sem paradas na Avenida Brasil desde Deodoro), prolongou-se por uma hora e 25 minutos: começou às 15h46m e terminou às 17hl1m. - Aproveito a viagem para descansar. Na Leopoldina, ainda tenho que pegar outro ônibus para São Gonçalo, onde moro - conta Renata, que saíra de Santa Cruz. No mesmo ônibus, a agente de limpeza Simone Luzia de Nascimento troca as sandálias por tênis, preparando-se para uma nova jornada, numa faculdade, em Bonsucesso. Se morassem em Petrópolis, Renata e Simone gastariam menos tempo para chegar à Novo Rio. Saindo da cidade às 16h57m, é possível chegar ao Rio em 54 minutos. São 58km num ônibus da empresa União, que viaja à velocidade média de 64,4 km/h. Há excesso de ônibus, diz especialista Para o professor José de Oliveira Guerra, do Departamento de Transportes da Uerj, a lentidão do tráfego na Zona Sul se explica, em parte, pelo excessivo número de ônibus, que trafegam com poucos passageiros. Ele argumenta que, para manter a freqüência, algumas empresas chegam a pôr em circulação mais 20% de veículos nos horários de maior movimento: - Com isso, realimenta-se um processo vicioso. O trânsito acaba vítima do excesso de ônibus - diz Guerra. - Enquanto continuarmos dando prioridade ao transporte individual em detrimento do coletivo, o trânsito só vai piorar. As saídas são estruturais. É preciso criar corredores exclusivos e tirar ônibus da Zona Sul. Fundamental ainda é impedir que vans e táxis parem em pontos de ônibus e que as operações de carga e descarga sejam feitas em baias. A melhoria da circulação na cidade, como um todo, passa ainda pela ampliação e pela melhoria dos sistemas de metrô e trem, afirma Guerra. O consultor e ex-secretário municipal de Transporte Miguel Bahury concorda: - Ou se avança na questão do transporte de massa ou o discurso vai continuar o mesmo de 20 anos atrás - alerta. HÁ UMA SEMANA, neste espaço, a Folha abrandou sua posição contrária a todas as formas de ação afirmativa na universidade. Passou a defender que o debate público vá além da polarização sobre cotas raciais, um beco sem saída, para concentrar-se em propostas inovadoras de inclusão social e aumento da diversidade no ensino superior. Mais que isso, o editorial "Avanço afirmativo" denunciava o voluntarismo de uma legislação federal para disciplinar em minúcias o que deve ser feito em cada faculdade do país. É preciso respeitar a autonomia universitária e as peculiaridades regionais. Uma lei poderia no máximo ditar o objetivo programático de que toda instituição crie algum sistema de inclusão. Não basta, evidentemente, ajudar estudantes talentosos, porém pobres, a obter uma vaga universitária. É preciso dar-lhes condições para que concluam os estudos. Idéias e propostas não faltam: mais cursos em horário noturno ou compatível com a manutenção de um emprego; reforço acadêmico para alunos com formação deficiente; bolsas que cubram os custos de transporte, alimentação e material. Qualquer que seja o programa de ação afirmativa social que uma universidade decida criar, ele não precisa -e talvez não deva- durar para sempre. As formas de incentivo à inclusão que forem introduzidas poderiam ser pouco a pouco restringidas, de modo a se extinguirem no prazo de 25 ou 30 anos, o horizonte de uma geração. Ou, então, até que a composição do corpo discente se aproxime do perfil socioeconômico local. Tais ponderações não têm o condão, obviamente, de fazer desaparecer as formas insidiosas e informais que o racismo assume no Brasil. Esta Folha, mesmo repelindo o critério racial em favor do socioeconômico, reconhece e deplora a sobrevivência da discriminação racial. Defende, por isso, que se dê conseqüência ao argumento tantas vezes brandido -contra as cotas- de que a verdadeira e definitiva solução do problema só virá com o acesso universal a um ensino fundamental e médio de qualidade. Se a tão preconizada e nunca concretizada revolução na educação não se transformar num objetivo nacional, será legitimada a conclusão de que os argumentos universalistas contra as cotas não passavam de vacuidades. Esse desfecho lamentável só será evitado por meio de um plano com metas quantitativas e qualitativas definidas: número mínimo, qualificação e remuneração digna de professores; instalações básicas para todas as escolas, incluindo acesso a tecnologias digitais; redução de taxas de evasão e repetência e aumento na média de horas-aula; melhor desempenho em testes nacionais e internacionais. Um plano, enfim, com o qual se comprometam partidos, governos e cidadãos. Menos que isso será, de novo, pouco demais. DA REPORTAGEM LOCAL Boitempo lança no próximo dia 25 o compêndio de 980 verbetes sobre política, cultura e economia dos países da região Obra, que reúne intelectuais de diversos países da região, é leniente e oficialista com figuras como Fidel Castro e Evo Morales mas também traz algumas visões mais críticas O ambicioso projeto de "Latinoamericana - Enciclopédia Contemporânea da América Latina e do Caribe", que a editora Boitempo lança no próximo dia 25 (R$ 190, 1.460 págs.), pode ser visto como manual e síntese da "situação paradoxal" da esquerda na região neste início de século 21. O diagnóstico sobre os esquerdistas do continente é do sociólogo Emir Sader, um dos organizadores do compêndio de 980 verbetes dedicados à política, à cultura e à economia ao sul do rio Grande, ricamente ilustrado, diriam os antigos vendedores de enciclopédia, com mapas e fotos, a reunir a nata da intelectualidade -de um dos lados do espectro ideológico- da região. Entre os autores de verbetes (alguns são, na verdade, ensaios), estão o sociólogo brasileiro Francisco de Oliveira, o economista Marcio Pochmann, a pesquisadora mexicana Ana Esther Ceceña, o antropólogo, também mexicano, Néstor García Canclini e o sociólogo norte-americano Mike Davis. O sociólogo elenca ainda as "distintas fisionomias" da esquerda latino-americana no começo do novo século, a começar por Cuba e pela Venezuela, passando por suas versões mais "moderadas" -como a do PT, no Brasil, e da Frente Ampla, no Uruguai-, até movimentos reunidos no Fórum Social Mundial e entidades como as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia). Patrocínio O artigo da cientista social venezuelana Margarita López Maya sobre seu próprio país também se insere em certa tradição crítica de esquerda, ao chamar a atenção para a ocasional inabilidade política de Hugo Chávez, presidente da Venezuela, em negociações com a oposição local, e ao falar de "ameaças de natureza autoritária por parte de Chávez e sua aliança" -sem deixar de ser, por óbvio, crítica com a direita venezuelana. Mas são vários os momentos em que o encanto e a falta de crítica com personagens como Fidel Castro, Che Guevara e o regime cubano revelam a face mais conservadora e distante dos "novos temas" da esquerda -assim tratados por Sader-, como direitos humanos e liberdades civis. Fidel No verbete sobre Cuba, no entanto, escrito pelo intelectual Fernando Martínez Heredia, ex-diretor do departamento de filosofia da Universidade de Havana, não há referências às perseguições a dissidentes políticos e minorias na ilha. Martínez diz que "todas as oposições, ataques e resistências às mudanças [da Revolução Cubana] foram derrotados, assim como as carências, que eram quase insondáveis, por meio de jornadas e de anos maravilhosos e traumáticos". O autor defende ainda que o regime de Fidel não pode ser classificado como autoritário. "O sistema cubano não se enquadra nas classificações habituais de "democracia representativa", "autoritarismo" ou outras, nem nos conceitos usuais relativos a sistemas políticos." No verbete sobre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, também escrito por Sader e de resto crítico em relação às políticas econômica e social do governo petista, a responsabilidade pelos casos de corrupção chega quase a ser atribuída à imprensa. Diz o autor: "A partir da metade do seu mandato, o governo e o PT passaram a ser acusados de casos de corrupção. A crise do "mensalão" (suposto pagamento mensal a deputados da base aliada para garantir maioria no Congresso) e outras que se seguiram impuseram mudanças de ministros [...], mas, acima de tudo, afetou profundamente a imagem ética de Lula e do PT". E continua: "A oposição de direita ganhou força, apoiada no monopólio privado da mídia, que estendeu ao máximo as denúncias na perspectiva de enfraquecer a Lula para impedir sua reeleição". A escolha de autores também influi, mais que na inclinação ideológica, nos limites da enciclopédia. No verbete sobre a Bolívia, por exemplo, o autor é o sociólogo Álvaro García Linera. A escolha seria inquestionável, não fosse García justamente o vice de Evo Morales. "Arquimedes, esta coroa é de ouro?" Esta pergunta feita pelo rei Híeron ao matemático grego nascido em Siracusa em 287 a.C. é provavelmente um dos primeiros registros em problemas inversos. Tentando resolver este problema Arquimedes observou que um corpo parcialmente ou inteiramente submerso em um fluido é submetido a uma força de empuxo de magnitude igual ao peso do fluido deslocado pelo corpo. Desta forma ele poderia avaliar então se a coroa havia sido feita inteiramente de ouro, ou se alguma fração de prata havia sido adicionada. Arquimedes desenvolveu, portanto, um procedimento experimental, hoje denominado ensaio não-destrutivo, para poder atender a solicitação do rei de Siracusa. Conta a lenda que após a sua descoberta Arquimedes saiu pelas ruas gritando: Eureka! Eureka!, ou seja, Achei! Achei! Problemas inversos possuem aplicações relevantes em diversas áreas da atuação humana, com especial destaque para Engenharia e Medicina. A conferência acontece às 16h, no Bloco F, Sala 6107/3, Campus Maracanã, Uerj. Mais informações em http://www.ime.uerj.br/~coloquios/Coloquionew.htm |
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