Reproduzimos matérias publicadas no CLIPPING UERJ. Debate na Uerj só reúne quatro candidatos - Folha Dirigida Folha Dirigida - Ensino Superior - pg. 10 - 11/8 Professores, técnicos-administrativos e estudantes da Uerj que estiveram no debate com os candidatos ao governo do estado realizado na última terça-feira, dia 8, saíram do campus Maracanã frustrados com a presença de apenas quatro dos 11 concorrentes. Após uma greve de três meses, representantes da comunidade reprovaram a postura dos futuros governantes do estado. "O debate serviu como termômetro da relação dos candidatos com a universidade. A principal avaliação se faz pela ausência. Essa postura dos faltosos deixou clara qual será a relação dos possíveis governadores frente à instituição", criticou Paula Almada, coordenadora do Diretório Central dos Estudantes (DCE). Quem foi ao debate, viu apenas Carlos Lupi (PDT), Milton Temer (PSOL), Telma Maria (PCO) e Vladimir Palmeira (PT) apresentarem sugestões. Marcelo Crivella (PL) e Denise Frossard (PPS) desmarcaram presença em cima da hora do debate. Para a representante da Associação dos Docentes (Asduerj), Maryjane Teixeira, a ausência dos outros sete candidatos, entre eles o líder nas pesquisas de intenção de votos e candidato apoiado por Rosinha, Sérgio Cabral Filho (PMDB), não contribui em nada para melhorar a crise na instituição. "Inclusive, três assessores do candidato do governo estiveram aqui na Uerj e condicionaram sua vinda ao envio antecipado das perguntas. Mesmo após termos enviado as questões, ele acabou não vindo. Com certeza, os candidatos faltosos perderam votos aqui dentro após toda esta situação", desabafou a docente, que participou do comitê de organização do encontro. Cotas e parceria privada foram temas de perguntas Além das entidades representativas dos professores, técnicos e alunos, a platéia também formulou questões para cada um dos candidatos que participaram do debate realizado na Uerj na última terça-feira, dia 8. As perguntas da comunidade tiveram como temas principais as cotas sociais e raciais adotadas pela instituição, assistência estudantil, e a parceria entre a universidade e empresas privadas. O candidato do PDT, Carlos Lupi, confirmou ser contra qualquer parceria da instituição com empresas privadas. "As parcerias público-privadas não podem ser feitas em áreas fundamentais, como educação, saúde e transporte". Sobre a reserva de vagas para alunos negros e carentes, os candidatos presentes ao encontro todos se mostraram favoráveis à medida e destacaram o papel da universidade de levantar o debate sobre o assunto. "Tenho preferência pelas cotas sociais, mas há espaço para os dois critérios", disse Milton Temer (PSOL). "Sou a favor das duas modalidades de cotas. O preconceito existe. Temos que obrigar os brancos a conviver com essa realidade", disparou Vadimir Palmeira (PT). Já a candidata Telma Maria (PCO) afirmou que todos os problemas relacionados à assistência estudantil, como a falta de bandejão e passe livre para os universitários da rede pública, passam pelo financiamento da educação no estado. "Tudo depende de com quem está o poder, hoje nas mãos de quem prioriza o lucro. Por isso, a política educacional tem sido muito ruim. É preciso direcionar os interesses para as reivindicações das classes trabalhadoras", acredita. Comunidade elogia propostas dos candidatos presentes Apesar da ausência da maioria dos políticos que irá concorrer ao governo do estado nas eleições de outubro, quem foi à Uerj na última terça-feira, dia 8, deixou boa impressão entre os integrantes da comunidade acadêmica. "Precisamos ter autonomia administrativa e financeira para que a universidade saia da crise que vive hoje, e cada candidato que esteve no campus Maracanã apresentou propostas para o tema", elogiou a representante da Associação dos Docentes (Asduerj), Maryjane Teixeira. Paula Almada, coordenadora do Diretório Central dos Estudantes (DCE), afirmou que as propostas dos candidatos são boas, mas que os alunos vão aguardar para saber se os políticos cumprirão suas promessas. "Quem esteve na Uerj demonstrou conhecimento sobre a situação atual da instituição e dos problemas dos alunos. Só esperamos que promessas como a manutenção das cotas e de investimentos em assistência estudantil não sejam palavras ao vento e que, caso eleitos, estes candidatos tenham possibilidade de implementar o que estão propondo", ponderou. Coordenador do Sintuperj, Cláudio Fernandes, acredita que será possível negociar com o futuro governador o aperfeiçoamento do Plano de Cargos e Carreiras da categoria, aprovado recentemente pela Assembléia Legislativa. "Foi uma grande vitória termos o plano aprovado, mas ele ainda precisa de modificações para que não haja uma diferença tão brutal entre as carreiras dos docentes e técnicos. Este é um ponto importante que esperamos ter liberdade para negociar com o Poder Executivo", afirmou. Folha Dirigida - Educação - pg. 10 - 11/8 Comemorado nesta sexta-feira, dia 11, o Dia do Estudante reflete, atualmente, uma juventude bem menos politizada quanto deveriam ser nossos jovens alunos dos ensinos fundamental, médio e superior. Tirando algumas boas iniciativas do movimento estudantil nos últimos meses, como a participação dos alunos na luta pela melhoria das condições da Uerj, os líderes estudantis parecem não conseguir mobilizar, de forma eficaz, nossos milhares de estudantes numa causa nobre, como foram, por exemplo, a derrubada do governo Collor, ou a luta contra o regime militar. As causas para a apatia dos alunos podem ser listadas: reflexo do que se tornaram lideranças do passado, como o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, um dos principais acusados no escândalo do mensalão, ou o ex-prefeito de São Paulo, José Serra, um dos pilares do neoliberal PSDB? Ou a partidarização cada vez mais acentuada dos diretórios estudantis, que acabam se recusando a aceitar erros de percurso de políticos ligados ao seu grupo político? O certo é que, neste 11 de agosto, a juventude brasileira, representada simbolicamente pelos estudantes, está perdendo uma grande oportunidade de sair às ruas e cobrar de nossos governantes a construção de uma sociedade com princípios éticos mais consistentes como, aliás, acontecia com muito mais freqüência no passado. Língua Portuguesa nas escolas Aos 79 anos, sendo 59 dedicados ao magistério, o professor Leodegário Amarante de Azevedo Filho, presidente da Academia Brasileira de Filologia e professor titular da UFRJ, sugere uma completa mudança na metodologia do ensino da Língua Portuguesa no país. Para ele, as escolas brasileiras deveriam resgatar a prática implementada há 40 anos, quando os professores baseavam suas aulas em textos de antologias e na gramática. A seu ver, o país precisa mostrar às novas gerações os autores brasileiros e portugueses reverenciados em todo o mundo, como Luís de Camões, Gregório de Matos Guerra, padre Antônio Vieira, Castro Alves e José de Alencar, entre outros. Professor Emérito da Uerj e dono de um acervo de 30 mil obras, há décadas o professor divide o espaço de seu apartamento com os livros. Uma relação de amor que começou ainda menino, por incentivo de seus pais, e por ele transmitida aos filhos e netos. Pois, para ele, é justamente esse amor pela Literatura que falta ao Brasil na caminhada rumo à construção de uma nação desenvolvida e verdadeiramente soberana. O professor Leodegário cita os recentes episódios de violência em São Paulo e no Rio de Janeiro como resultado do abandono da educação nacional e demonstra respeito pelo projeto dos Centros Integrados de Educação Pública (Ciep), implementado no início da década de 80 pelo educador e antropólogo Darcy Ribeiro durante o governo de Leonel Brizola. Para o professor, a educação integral é a saída para acabar com o crescente número de crianças abandonadas nas ruas, praticando pequenos furtos, sendo aliciadas pelo tráfico ou sendo exploradas pelos pais. Em sua análise, a violência, a desigualdade social e os demais problemas que assolam o país poderiam ser resolvidos com uma verdadeira e sólida política educacional. Mas, destaca que para isso acontecer é preciso uma real vontade política. Ainda mais em razão dos resultados demorarem, no mínimo, 15 anos para aparecer, tempo que ele considera longo demais para o egoísmo crônico dos políticos. Eis a entrevista com o professor Leodegário de Azevedo Filho: FOLHA DIRIGIDA – O sr. considera que as escolas deveriam adotar em sala de aula, como prática pedagógica, o estudo das obras dos grandes autores brasileiros e portugueses? Leodegário de Azevedo Filho – Sim. Isso é fundamental para a educação nacional. Sempre defendi que a Língua Portuguesa deve ser ensinada a partir de textos literários. A norma culta da língua deve ser aprendida nesses textos de autores brasileiros e portugueses. Há aproximadamente 40 anos, os professores, em sala de aula, adotavam uma antologia e uma gramática para o ensino da Língua Portuguesa. E o desenvolvimento do estudo era realizado com base nos textos literários. Na verdade, esta é a correta orientação metodológica, pois incute no aluno o gosto pelo texto literário escrito e desenvolve no estudante o apreço pela redação. E nesse sentido, acredito que é necessário avançar no incentivo cada vez maior aos concursos de redação. Mas, é óbvio que a escrita se desenvolve, sobretudo, com a leitura e a interpretação dos textos de bons autores. FOLHA DIRIGIDA – Quais seriam esses bons autores que deveriam ser trabalhados em sala de aula? Leodegário – Existem muitos no Brasil e em Portugal, mas vamos citar os mais destacados. No século XVI temos Luís de Camões e Antônio Ferreira. Um pouco antes, no final da Idade Média, o teatro de Gil Vicente, além da própria cultura medieval. É importante enfatizar que não existe separação em compartimentos estanques entre os períodos culturais. A cultura da Idade Média, por exemplo, penetrou no século XVI. Camões tem em seu vocabulário palavras oriundas da Idade Média. Inclusive, existe um importante livro "Índice analítico do vocabulário de Os Lusíadas", de Antônio Geraldo da Cunha. Esta publicação reforça a ausência de divisão em compartimentos isolados entre a cultura da Idade Média, do Renascimento, do Maneirismo e do Barroco. Culturalmente, o século XVI foi uma época de confluência literária muito rica. Temos a herança medieval e o Renascimento, que veio da Itália. Inclusive, entre o Renascimento e o Barroco temos o Maneirismo, muito presente na lírica de Camões e dos grandes poetas do século XVI. Já o século XVII é a época do Barroco e surgem duas grandes figuras no Brasil. Na poesia, Gregório de Matos Guerra e, na prosa, os sermões do padre Antônio Vieira. FOLHA DIRIGIDA – Existe disponível nas bibliotecas brasileiras um acervo da obra desses autores para que professores e alunos possam consultar? Leodegário – Esse é um grave problema nacional. Considero uma vergonha que o Ministério da Cultura ainda não tenha nomeado uma comissão para elaborar uma edição crítica da poesia de Gregório de Matos Guerra. Ele, que simplesmente é o maior poeta do Barroco em Língua Portuguesa e uma glória para o Brasil, não teve nenhum de seus textos publicados em vida. Os textos do popular "Boca do Inferno", por sua enorme capacidade crítica ficaram restritos aos cancioneiros de mão, aos manuscritos, às cópias. Isso é um problema gigantesco e a Literatura Brasileira precisa enfrentar isso com rapidez para que não percamos esse tesouro. Já no caso do padre Antonio Vieira existe um acervo importantíssimo. Português de nascença, veio para o Brasil aos seis anos e estudou no Colégio dos Jesuítas da Bahia. Teve uma formação brasileira. Quando retornou à Portugal pela primeira vez, na idade adulta, era apontado como um jesuíta do Brasil Gregório de Matos e padre Antonio Vieira são duas figuras exponenciais na Literatura Brasileira. E para se ter uma idéia da importância da obra do padre Antonio Vieira, os primeiros alunos da já tradicionalíssima Universidade da Coimbra tinham como prêmio estudar no Colégio dos Jesuítas da Bahia. Portanto, considero que as origens da cultura brasileira estão impregnadas do espírito Barroco. E isso pode ser observado até hoje, por exemplo, no desfile das escolas de samba. Aquela ornamentação remete ao Barroco. Já a cultura portuguesa está impregnada do espírito Renascentista Clássico. FOLHA DIRIGIDA – Quais outros autores o sr. destacaria como importantes para o estudo em sala de aula? Leodegário – No século XVIII a Língua Portuguesa foi definitivamente implantada como língua nacional do Brasil. Depois veio o século XIX, época do Romantismo. E nesse momento apareceram grandes figuras na poesia, como Castro Alves, e da prosa, como José de Alencar. Em seguida, chegamos ao século XX, com a implantação do Modernismo no Brasil a partir da Semana de Arte Moderna, em 1922. Então, os professores brasileiros dispõem de uma extraordinária riqueza literária e é por isso que as antologias são importantes. Na época em que eram adotadas, os alunos tinham contato íntimo e permanente com textos selecionados de todos esses grandes autores de cada estilo de época, como a antologia do saudoso mestre e amigo professor Clóvis Monteiro, que teve grande aceitação há décadas e ainda é excelente e atual. Antes dela havia a antologia da Língua Nacional, do professor Carlos Laet, também ótima. Mas, infelizmente, depois a didática do ensino desviou-se dessa orientação e os professores passaram a fazer pequenos livros para o ensino da Língua Portuguesa, compostos de textos e exercícios gramaticais. Se me fosse dada autoridade, restabeleceria esse sistema de utilização das antologias e das gramáticas e tenho certeza que formaríamos gerações melhores de estudantes. FOLHA DIRIGIDA – Qual a sua opinião sobre o ensino integral? Ele deveria ser adotado nas escolas? Leodegário – Imediatamente. Inclusive, tenho um enorme apreço pelo projeto dos Cieps desenvolvido pelo educador e antropólogo Darcy Ribeiro no início da década de 80, no governo de Leonel Brizola. A solução para a educação nacional está no ensino integral público de qualidade e não no sistema de cotas, que não privilegia o mérito. Os governos precisam levar a sério a educação, pois sem isso o país nunca alcançará a verdadeira soberania. Nessa época de eleição, é preciso que os cidadãos brasileiros olhem para a violência que assola o país. Ela é mais visível em São Paulo e no Rio de Janeiro, grandes centros urbanos, mas está espalhada por esse enorme Brasil. Temos que votar corretamente e exigir dos políticos que invistam verdadeiramente em educação. É uma aposta certa, mas que demora, no mínimo, 15 anos, tempo demais para o egoísmo dos políticos brasileiros. Nos próximos meses a população deve escolher com muita atenção quem vai nos governar nos próximos quatro anos. E é isso que procuro fazer no momento. Observo, recolho informações para não desperdiçar essa grande oportunidade. Também acredito muito no desenvolvimento da leitura. Tenho um acervo de 30 mil obras e fui incentivado a buscar essa intimidade com os livros pelos meus pais. Fiz o mesmo com meus filhos e eles fizeram com meus netos. Isso é educação. Ela vem de casa, pelo exemplo. FOLHA DIRIGIDA – Quais são seus projetos atualmente? Leodegário – Tenho um desafio que está me motivando bastante. Ao ser reconduzido para um novo mandato na presidência do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), o meu amigo, professor Arno Wehling, estabeleceu vários projetos de caráter cultural e entre eles definiu como prioridade a preparação de edição fac-similada de um exemplar de "Os Lusíadas", que pertenceu ao imperador Pedro II. FOLHA DIRIGIDA - Qual a importância deste volume de "os Lusíadas"? Leodegário – Muito grande. Pesquisadores dos Estados Unidos e da Europa têm vindo com freqüência ao Brasil para consultar este exemplar na biblioteca do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Portanto, um fato que enche de responsabilidade a minha missão. Para se ter uma idéia, só a introdução geral, fazendo um histórico de toda a problemática em torno da primeira edição de "Os Lusíadas", questionando todas as posições já assumidas historicamente diante do problema, deverá resultar em aproximadamente 100 páginas. FOLHA DIRIGIDA – Qual a razão de uma introdução tão longa? Leodegário - Em razão de até hoje não existir uma edição rigorosamente crítica de "Os Lusíadas" Inclusive, constatei que nenhuma edição merece o título de "crítica" em relação à lírica de Camões. E para suprir isso também tive a honra de ser convidado pelo governo português para realizar um trabalho sobre o assunto. Na verdade, publiquei oito volumes sobre a lírica de Camões. Agora faltam quatro. É uma coleção que está sendo impressa pela Imprensa Nacional Casa de Lisboa de Portugal por ordem do governo português. Me sinto honrado de receber essa atribuição, e por ela fui condecorado, em 1999, pelo então presidente da república, Jorge Sampaio, com a Comenda da Ordem do Mérito Nacional. FOLHA DIRIGIDA – O sr. poderia detalhar quais são os problemas que existem em relação à lírica de Camões. Leodegário – Trata-se do maior problema textológico da Literatura Portuguesa de todos os tempos. Na verdade, existem duas edições de "Os Lusíadas", datadas de 1572, mas com diferenças que chamam a atenção. Inclusive, de acordo com a edição de 1572 que está exposta no IHGB e acredita-se firmemente tratar-se da original de Luís de Camões, há no início da obra o desenho de uma cabeça de um pelicano virada para a esquerda do leitor. Já na outra edição citada a cabeça do pelicano está virada para a direita do leitor. Tive o trabalho de confrontar esses volumes, pois os originais de "Os Lusíadas" se perderam. Portanto, para uma edição crítica de "Os Lusíadas" tivemos que nos valer de um trabalho voltado para essas diferenças entre essas duas edições de 1572. E após muitos estudos cheguei à conclusão que a edição que tem no início do livro a cabeça do pelicano voltada para a direita do leitor é fraudulenta. Logo na primeira estrofe apresenta uma variante do sétimo verso da primeira estrofe. Mas isso é apenas o início, pois confrontei verso por verso de "Os Lusíadas" e me surpreendi com uma série de diferenças que mostram que esta a citada edição com a cabeça do pelicano para a direta é fraudulenta. E existem outras provas concretas. FOLHA DIRIGIDA – Quais seriam essas provas? Leodegário - O escritor Luís de Camões escreve na edição correta um verso com uma referência extremamente elogiosa a Dom Nuno Alves Pereira, o grande comandante da Batalha de Aljubarrota. Camões escreveu: "Cipião português chamar-se deve". Na edição fraudulenta "cipião" vira "capitão". E com isso foi desfeito o elogio feito por Camões, pois capitão seria um subordinado de Dom Alves Pereira. Outro exemplo de variante grave é a referência de Luís de Camões a Mercúrio. Quem conhece Mitologia sabe que a mãe de Mercúrio é Maia. No volume fraudulento, a mãe de Mercúrio é denominada Maria. Desta forma, para se ter uma idéia do equívoco, um rei mitológico passa a ser filho de Nossa Senhora. E estou descobrindo todos esses absurdos com essa pesquisa. FOLHA DIRIGIDA – E quem teria praticado a fraude? Aconteceu com Camões ainda vivo? Qual foi o motivo? Leodegário – Isso foi uma decisão de editores da época, pois em 1580, com a morte de Camões, a nacionalidade portuguesa passou a ser politicamente dirigida pelos castelhanos. Então, "Os Lusíadas" passaram a ter numerosas e sucessivas tiragens porque a obra passou a ser a bíblia da nacionalidade portuguesa. Então, como havia uma grande aceitação de "Os Lusíadas", os editores fizeram essa edição fraudulenta com a finalidade de ganhar dinheiro. Só acredito nessa hipótese, pois o grande poeta Luís de Camões não escreveria, sob hipótese nenhuma, que a mãe de Mercúrio era Maria. Na verdade, levantei mais de 100 casos de ultra-correção ou hiper-correção, que são correções equivocadas por ignorância da norma lingüística. Ou seja, a pessoa pensa que há um erro no texto, alterando o que está certo para a forma errada. No caso de Mercúrio, a pessoa imaginou que faltasse um "r" quando viu o nome Maia. É necessário reafirmar que Camões era um profundo conhecedor da mitologia e da cultura do século XVI, tanto assim que a Língua Portuguesa é considerada a língua de Camões, assim como a Língua Italiana é considerada a língua de Dante Alighieri. Outro fato que explica o caso das edições fraudulentas é que na época da Inquisição, a publicação dessa edição de 1572 de "Os Lusíadas" foi liberada devido a um parecer favorável do censor da Inquisição, frei Bartolomeu Ferreira. No entanto, se os editores fossem publicar uma nova edição, ela teria que ser analisada novamente pelo Tribunal do Santo Ofício para a solicitação de um novo parecer. E o receio de que o parecer fosse negado gerou essa edição fraudulenta. E no parecer da Inquisição, Camões possuía um alvará de licença que lhe conferia o direito de publicar o livro por oito anos, ou seja, até 1580, exatamente o ano em que Camões morreu. E este exemplar correto, que pertenceu ao imperador Pedro II, está no IHGB. Trata-se de uma obra com enorme valor histórico não apenas pelo carinho que Pedro II tinha pelo livro, mas também pelo fato de ter sido a única obra que levou em seu exílio. E depois que morreu Dom Pedro II, o príncipe de Orleans e Bragança doou o livro ao IHGB. Esse é um projeto em que estou dedicando minha energia. Trata-se de um fato fundamental para a história da literatura mundial. FOLHA DIRIGIDA – O sr .acredita que existam outras edições fraudulentas no Brasil ou em Portugal? Leodegário – Sim. O professor David Jackson, da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, consegui levantar 27 livros com data de 1572. Desse total, alguns são fraudulentos. Mais de dois, com certeza. E essas fraudes foram publicadas após 1580, mas com data de 1572, justamente para evitar o citado Tribunal do Santo Ofício. Em Portugal existem exemplares de "Os Lusíadas", na Biblioteca Nacional de Lisboa e também na Biblioteca de Coimbra. Os interessados têm até o dia 9 e 21 de agosto para comprar o kit de inscrição nas agências bancárias credenciadas ou se inscrever pela internet, por meio do site www.vestibular.uerj.br. A taxa de inscrição é de R$36. Os candidatos que optarem pela inscrição via agências bancárias terão até o dia 22 de agosto para colocar o requerimento de inscrição no Correios. O documento deverá ser enviado como carta registrada e o candidato deverá guardar o comprovante de compra do kit e de envio da ficha de inscrição pelos Correios. O segundo exame de qualificação será aplicado no dia 8 de outubro. Isentos - Para os beneficiados com isenção da taxa de inscrição, as inscriçõe serão feitas exclusivamente pelo site. Para estes candidatos, o calendário foi alterado e o início das inscrições foi antecipado. Estes candidatos já podem acessar o site e se inscrever. O prazo vai até o dia 21 de agosto. A edição traz a lista dos novos beneficiados. Além destes têm garantida a isenção aqueles que conseguiram o beneficío na primeira prova e confirmaram a participação no exame. O vestibular Estadual oferece vagas para a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), para a Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf) e para as Academias de Políica Militar Dom João VI do Rio de Janeiro e para a Academia de Bombeiros Militar Dom Pedro II do Rio de Janeiro. O Ministério da Educação divulgou, na última quarta-feira, dia 9, o resultado do Exame Nacional de Desempenho do Estudante (Enade) em 2005. Ao todo, 277 mil estudantes de 5.511 cursos, divididos em 20 áreas do conhecimento, foram avaliados. Destes cursos, 27% obtiveram as notas mais altas da avaliação, 4 e 5. A maior parte deles, nas instituições públicas de ensino superior. De acordo com números do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), as federais concentraram 56,3% das notas mais altas e as estaduais, 40,6%. Em contrapartida, as notas mais baixas ficaram concentradas nas instituições particulares e municipais, 23,2% e 37,5%, respectivamente. A maior parcela das instituições avaliadas, contudo, sejam públicas ou privadas, ficou com conceito médio na avaliação do MEC: 53% dos cursos tiraram nota 3. O Enade 2005 avaliou formandos e calouros nos seguintes cursos: Arquitetura e Urbanismo, Biologia, Ciências Sociais, Computação, Engenharia (distribuída em oito grupos), Filosofia, Física, Geografia, História, Letras, Matemática, Pedagogia e Química. Na avaliação regional, Sul e Nordeste apresentaram o maior número de cursos com conceitos altos. A região Sul ficou em primeiro lugar, com 29,9% dos cursos com melhor nota, enquanto Nordeste teve 29,8%. Norte e Centro-Oeste, por sua vez, ficaram com o maior índice de cursos com avaliação ruim, 31,4% e 28,5%. Somando-se os resultados do Enade 2004, 2005 e o que será realizado este ano - a prova está marcada para o dia 12 de novembro - o MEC completa o primeiro ciclo de sua avaliação, com todas as áreas do conhecimento sendo analisadas. O Enade faz parte do Sistema Nacional de Avaliação do Ensino Superior (Sinaes). Exame é criticado por reitores de públicas e particulares Os bons resultados das universidades públicas do Rio e da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do estado, exceção entre as instituições particulares, não contentaram os reitores das instituições mais bem colocadas no Enade. Eles criticaram o exame, reclamando de pontos desde o sorteio dos alunos que fazem a prova, até a validade da prova como avaliadora dos conhecimentos dos universitários. O reitor da PUC-Rio, padre Jesús Hortal, comparou o Enade ao antigo exame de desempenho dos estudantes, o Provão, e afirmou que o sistema anterior era bem melhor que o atual. "O Enade possui várias falhas. Uma é a escolha dos alunos. Não temos como saber se, neste sorteio, foram escolhidos realmente os estudantes que representam aquela turma. O segundo problema é a falta de periodicidade. Cada curso é avaliado somente de três em três anos, não dá para construirmos um histórico do desenvolvimento", justifica. Já a vice-reitora da Rural, Ana Dantas, critica a utilização do Enade como indicador dos conhecimentos dos alunos. "O Enade é um exame e, como qualquer outro, faz com que o estudante seja passível de emoções durante sua realização. Por isso, ele não reflete toda a formação do universitário. Mas mesmo assim, e com todas as dificuldades que as universidades públicas enfrentam, conseguimos obter um bom desempenho", pondera. Para ela, o desempenho ruim das instituições particulares de ensino superior se deve à falta de investimentos em ensino, pesquisa e extensão. "Nas públicas, especialmente aqui na Rural, valorizamos muito a pesquisa e a extensão. Dessa forma, os professores de dedicação exclusiva alimentam o interesse pela pesquisa científica. Nos projetos de extensão, o aluno passa a ter um contato maior com a sociedade que o rodeia e isso se reflete depois de sua formação", supõe Ana. Padre Hortal também acredita que o incentivo à pesquisa é um dos fatores que diferencia o desempenho da PUC das demais instituições particulares. Ele também atribui os bons conceitos alcançados pela universidade no Enade aos docentes e alunos. "Temos professores com excelente formação e alunos, em sua maioria, vindos de colégios tradicionais ou que tiveram boas notas no Exame Nacional do Ensino Médio, o Enem. Não adianta bons professores se os estudantes também não forem bons", finaliza o reitor. Biologia e Química: poucos cursos com nota máxima Para o diretor do Instituto de Biologia da Uerj, Jorge José de Carvalho, o bom desempenho na avaliação se deve ao ambiente da unidade. "Acredito que o resultado deve-se ao esforço do nosso corpo docente. Temos mais de 85% dos professores com doutorado. Este ambiente envolve os alunos e os estimula. Nossa unidade está muito comprometida com a pesquisa. Os alunos percebem isso e interagem muito mais, pois estão envolvidos nos laboratórios, nos eventos, nos seminários de pesquisa", argumenta o diretor. Para Jorge, os estudantes envolvidos com pesquisa possuem um rendimento muito melhor que os demais. "Este ambiente rico favorece e estimula a todos. As pessoas aqui estão preocupadas não apenas com a transmissão, mas com a geração de novos conhecimentos. Acredito que este vem sendo o nosso diferencial, decisivo para este resultado". A aluna Thaís Rodrigues, do curso de Biologia da UFF, também com conceito máximo, afirma que a qualidade dos professores compensa mesmo os problemas estruturais nas públicas. "Nossos estudantes também são muito esforçados, e a equipe é muito boa, apesar da estrutura um pouco precária. As condições podem não ser as ideais, mas o trabalho sério que é desenvolvido está dando o retorno merecido", finaliza. De 177 cursos em Humanas, menos de 5% com conceito 5 Nas Ciências Humanas, poucos cursos avaliados no Enade no estado do Rio obtiveram conceito máximo. De seis áreas avaliadas, totalizando 177 cursos, apenas sete ficaram com a nota 5, menos de 5%. Em História, o pior desempenho: nenhum dos cursos avaliados, 31, obteve nota 5. Entre os cursos de Letras, dois ficaram com conceito máximo, um da Faculdade de Letras da Uerj e outro da Faculdade de Filosofia Santa Dorotéia. Na Filosofia, de seis cursos avaliados, apenas a UFRJ teve nota máxima. Nos cursos de Geografia, de 20 cursos avaliados, apenas um, da UFRJ, obteve o conceito mais alto. Na Pedagogia, situação semelhante. De 61 cursos, somente Pedagogia da Uerj obteve conceito máximo. Para Bruno Miranda, coordenador do Diretório Central dos Estudantes (DCE) e aluno do curso, o resultado do Enade é contraditório. "É uma grande contradição se pensarmos nas reais condições acadêmicas da Uerj, em especial da Faculdade de Educação. Por um lado temos um grande número de professores extremamente competentes e com renome internacional. Por outro, a faculdade possui muitos professores temporários. Além disso, passamos por graves problemas estruturais, como é de conhecimento de todos", lembra. Mesmo assim, Bruno acredita que o resultado é positivo. "O problema é que o Enade é uma avaliação vertical. Isso quer dizer que ele não consegue identificar problemas que estão no nosso dia-a-dia e que são vivenciados pelos estudantes", completa. Por último, os cursos de Ciências Sociais tiveram média um pouco melhor. De oito cursos que passaram pelo Enade, dois tiveram nota 5 (Uenf e PUC-Rio), enquanto outros quatro tiveram nota 4. Fernando Souza, membro do DCE da Uenf e aluno de Ciências Sociais da instituição, afirma que o envolvimento com pesquisa é uma das causas do bom desempenho. "Aqui a carga de leitura é muito alta. Estou no 3º período e já possuo bolsa de pesquisa. Mais da metade da minha turma também. Isso faz uma grande diferença". UFRJ se destaca em Engenharia e Informática A UFRJ ficou com 4 nas Engenharias Eletrônica e Eletrotécnica. Em Alimentos, Estácio de Sá e Rural obtiveram o segundo melhor conceito, sendo que a última obteve a mesma pontuação em Florestal. Nas áreas Industrial, Mecânica, Aeroespacial, Aeronáutica, Automotiva e Naval, ficaram com 4 a UFF, UFRJ e Cefet-Rio. Para o diretor do Centro Tecnológico da UFF, Wainer da Silveira, o desempenho na área de Engenharia se deve a três fatores: os cursos são tradicionais, ministrados em período integral, e os professores qualificados. "O aluno sai bem preparado para o mercado de trabalho". Em Física, somente a PUC obteve conceito 5, mas a UFF, UFRJ, Uerj, Uenf e Cefet-Campos dos Goytacazes alcançaram conceito 4. O pior conceito do estado (1) foi da Rural. A PUC também se destacou em Matemática, obtendo também o conceito 5, junto com Uerj e UFRJ. Ao contrário, a Faculdade Gama e Souza foi a única das 37 avaliadas que recebeu conceito 1. Na área de Computação e Informática, a única que alcançou conceito máximo nos bacharelados, tanto em Ciências da Computação quanto em Sistemas de Informação, foi a UFRJ. Na primeira modalidade ninguém recebeu conceito 1, ao contrário da segunda opção de bacharelado, em que as universidades Santa Úrsula e Castelo Branco foram as piores. Já em Engenharia da Computação, a única instituição que oferece o curso no Rio, o Centro Universitário de Barra Mansa, recebeu conceito 2. Luiz Biondi e Carlos Alberto |
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