Reproduzimos matérias publicadas no CLIPPING UERJ. O Globo - Prosa & Verso - pg. 05 - 8/7 Os sete mitos da conquista espanhola, de Matthew Restall. Tradução de Cristiana Serra. Editora Record, 364 pgs. R$48,90 Podemos conviver com sete mitos todos os sete dias da semana sem nos darmos conta. Mas o instigante livro do historiador americano Matthew Restall se propõe a uma desmistificação que não é ferozmente iconoclasta, nem se direciona para as mitologias indígenas, porém aos estereótipos e metáforas elaborados ao longo de cinco séculos pela civilização ocidental, da qual fazemos parte. Não se trata de narrativa sobre conquista de novas terras ou novos céus e galáxias, mas da difícil e dangerosíssima viagem (como já advertira Drummond) ao coração de nossa própria cultura. Surgido da experiência em sala de aula somada às pesquisas minuciosas e ao convívio erudito de anos com o tema, o autor apresenta um elaborado e bem articulado ensaio, de linguagem acessível e fluente, sobre a Conquista da América pelos espanhóis no século XVI e as memórias, estereótipos e narrativas que daí brotaram. Utilizando a polissêmica expressão “mito” no sentido de ficção ou invenção metafórica, Restall não foge da raia e se posiciona diante de assuntos polêmicos e critica posições bastante difundidas em material didático, obras acadêmicas e, sobretudo, nos meios de comunicação, em filmes e pelo senso comum. Idéia de superioridade branca é combatida Os sete mitos são assim apresentados em sete capítulos: a idéia de que a Conquista foi realizada por um punhado de homens excepcionais, através de um exército bem organizado, composto somente por europeus e brancos, consumando-se de forma rápida e definitiva, através de modos de comunicação eficazes, gerando a desolação e extinção dos índios e baseada na superioridade indiscutível dos conquistadores. Quem já não ouviu ou leu algumas destas afirmações? Para cada uma, o autor articula respostas precisas, dialoga com posições contrárias e fundamenta-se em documentos (nativos e espanhóis) e na historiografia dos séculos que seguiram. Numa época, como a atual, em que o etnocentrismo é banalizado e expressões como “Descobrimento” são naturalizadas, vale a pena prestar atenção em alguns dos argumentos. Entre as afirmações, está a de que os espanhóis, minoritários numericamente, só acabaram bem sucedidos na medida em que se aliaram com variadas populações nativas e foram acompanhados de africanos. Destacam-se aí curiosas biografias de conquistadores negros, como Juan Valiente e Juan Garrido. Ou a presença crucial de muitos intérpretes e intermediários como a famosa Malinche, uma nobre maia que acompanhou as expedições de Cortés e com ele teve um filho. A genialidade visionária de Colombo é devidamente desmontada a partir dos registros da época, bem como a excepcionalidade de Cortés e sua autovalorização que se perpetuou pelos séculos, imagem que surgiu nos próprios relatórios que o guerreiro espanhol enviava para valorizar seus atos. Tal revisionismo, está claro, não fica incólume. O próprio autor cita, por exemplo, o contra-argumento de Claude Lévi-Strauss, para quem os recentes questionamentos que alertam contra a vitimização dos índios não passam de tentativas de ocultar ou negar o holocausto praticado. Ao que Restall pondera que se trata de valorizar, justamente, o protagonismo dos povos indígenas e a capacidade destes em encontrar saídas e sobrevivências diante de situações difíceis e não serem apresentados apenas como vítimas desoladas e fadadas à extinção. O autor não acredita que houve um holocausto premeditado, apesar das violências atrozes e milhões de mortes que ocorreram, pois isso estaria em contradição com as intenções dos colonizadores de explorar a mão de obra das populações nativas e melhor conhecer e dominar seus territórios. O autor alerta ainda para a difundida afirmação da superioridade bélica dos conquistadores, dada como fator explicativo neutro e inquestionável e que acaba sendo uma nova roupagem para o mito da superioridade européia, segundo ele, pois a defesa da preponderância cultural e civilizadora dos conquistadores perdeu força e não é mais politicamente correta. Entre os fatores decisivos para o desenlace, Restall cita as epidemias que mataram milhões de índios, a desunião ou multiplicidade das culturas nativas que não se aliavam facilmente, o uso do aço pelos europeus e o contexto histórico da expansão marítima que deu impulso decisivo à Conquista e posterior colonização. O próprio termo “índio” é freqüentemente colocado entre aspas, na medida em que o historiador não aceita este rótulo genérico e impreciso (que até hoje envolve as populações nativas) e opta por citar os nomes específicos de grupos ou etnias. América portuguesa Pairam sobre o livro (pelo menos para os leitores brasileiros) questionamentos de outros mitos, mesmo que não tratados por Restall, por estarem fora de seu objeto de estudo: às vezes semelhantes aos da América hispânica, às vezes específicos da colonização portuguesa e da identidade brasileira. Um deles justamente é o da superioridade cultural das populações nativas da América espanhola sobre as existentes no território que se tornou a América portuguesa. Premissa que levou intelectuais brasileiros em alguns contextos, inclusive no século XIX, a uma espécie de escapismo alegórico para os índios “superiores” do lado espanhol em detrimento do “primitivismo” dos que se encontravam do lado português. Em obras famosas como “Casa-grande & senzala”, de Gilberto Freyre, há afirmação explícita de que os índios não guerrearam ou resistiram ativamente, mas se limitaram a uma resistência “passiva e vegetal”, beneficiados pela maleabilidade cultural do colonizador luso. Sem esquecer os rótulos de naturalismo ingênuo ou barbaridade feroz que com freqüência são associados aos grupos indígenas do Brasil, também não raro vistos como condenados à extinção ou “aculturação”, além de se tornarem objeto de curiosidades exóticas. O livro de Restall, diretor de Estudos Latino-Americanos da Pennsylvania State University, instiga estas e outras reflexões sobre nosso passado e nós mesmos. MARCO MOREL é professor de História da Uerj e autor de “O período das Regências (1831-1840)” O Globo - Cartas dos Leitores - pg. 06 - 8/7 Há pelo menos quatro anos denuncio o número crescente de assaltos no entorno do Maracanã e, principalmente, na rampa que liga a estação do metrô ao estádio e à Uerj. Já enviei e-mail para o Batalhão, dei sugestão de como eles podem prender os bandidos, colocando um policial disfarçado de usuário, informei que eles ficam embaixo da rampa, que liga o Metrô ao Maracanã, por sinal onde o assassino dos guitarrista dos Detonautas estava escondido, e nunca fizeram nada. MARCOS ANTONIO DE ABREU FERREIRA (via Globo Online, 7/7), Rio A matéria só faz confirmar a violência naquela área e não é só à noite. Pela manhã, mais de 30 pivetes que se alojam embaixo da passarela que leva ao metrô aterrorizam pessoas que fazem exercícios na pista de corrida em volta do Maracanã e roubam quase que diariamente motoristas, principalmente mulheres e idosos, no engarrafamento entre 8h e 9h no sentido Centro e entre 18h e 19h no sentido Vila Isabel. Tem que haver um choque de ordem. Apesar de em alguns dias ficar um gol do 6º BPM na pista de descida da Radial Oeste, embaixo dessa passarela, os pivetes continuam tomando conta daquela área. LUIS AUGUSTO CAVALLERO (via Globo Online, 7/7), Rio Esta lei discriminatória de cotas para negros já separa as criaturas pela raça, o que seria crime constitucional; além disso, é arma de dois gumes, pois, se houver maior número de negros aprovados no vestibular do que o número de vagas previstas para os mesmos, será possível argüir sua limitação ao número referido de cotas previsto em lei. E, neste caso, a lei seria perniciosa para os negros. Só uma coisa não fica claro: somos ou não todos iguais perante a lei? CARLOS DE BRITO IMBASSAHY (por e-mail, 7/7), Niterói, RJ A política de cotas raciais não passa de mais um copo de água com açúcar ministrado pelo governo para tentar abrandar a desigualdade social, problema que se arrasta há séculos, fruto de um processo de colonização sanguessuga e de uma libertação irresponsável, que promoveu toda essa segregação de oportunidades. As cotas ferem o princípio da igualdade, ou realmente se acredita que só negros, pardos, caboclos, mamelucos sofrem com tal desigualdade? Não existem brancos pobres, segregados socialmente? E como será feita esta distinção num país tão eclético em raça? Precisamos de um governo compromissado com a promoção real da igualdade social, e não de medidas do tipo bolsa, cheque, remédios e refeições a R$1, que se aproximam muito mais de caridade (sedução do eleitorado) do que de solução. MATHEUS CHAGAS GIMENES (por e-mail, 7/7), Campos dos Goytacazes, RJ Em 2006, comemoramos os 70 anos da publicação de “Raízes do Brasil”. Nesse ensaio, Sérgio Buarque de Holanda definiu o “homem cordial”. A sociedade brasileira parece reconhecer-se no conceito, pois é comum que se aceite a cordialidade como maneira adequada de autodefinição. O conceito foi formulado durante longa temporada na Alemanha, de junho de 1929 até dezembro de 1930, época em que Sérgio Buarque trabalhou como correspondente de “O Jornal”. Por fim, o conceito foi extraído da obra do filósofo político Carl Schmitt. Ora, se a cordialidade “traduz” o brasileiro, nossa identidade tem sotaque germânico... JOÃO CEZAR DE CASTRO ROCHA é professor de literatura na Uerj, autor de “O exílio do homem cordial” e organizador de “Cordialidade à brasileira”, seleção de artigos lançada este ano pela Editora Museu da República
De volta ao Rio, Sérgio Buarque aperfeiçoou suas idéias, escrevendo artigos e textos mais tarde aproveitados no livro de estréia. O mais importante foi publicado em 1935, na revista “Espelho”. Denominava-se “Corpo e alma do Brasil” e representava um esforço de síntese do futuro livro. Qual a primeira noção tratada nesse texto? O homem cordial. A conclusão, abandonada no livro, torna-se cada dia mais instigante nas circunstâncias de um mundo globalizado: “Hoje somos um povo endomingado. Uma periferia sem um centro”. Teríamos perdido a espontaneidade, comprometendo gestos e intenções num ritualismo avesso à formação histórica brasileira. Delineou-se assim uma geografia incerta, habitada por homens cordiais, desterrados num país-continente, como se, por exemplo, desejássemos explicar o país com auxílio de pensadores alemães... Em que medida, portanto, a experiência alemã influenciou a escrita de “Raízes do Brasil”? A vivência em Berlim contribuiu para a reflexão do historiador?
O conceito de “Jetztheit”, proposto por Walter Benjamin, define muito bem a Berlim dessa época. Haroldo de Campos traduziu o termo com o sugestivo “agoridade”, expressando o predomínio do aqui e agora, da fruição imediata dos sentidos, como se o mundo estivesse com os dias contados. E, de fato, estava. A Berlim alegremente irresponsável começou a dar lugar a uma cidade muito diferente, intimidada pelo crescimento do partido nacional-socialista, que chegaria ao poder apenas três anos após a partida do brasileiro. No último capítulo de “Raízes do Brasil”, aliás, a reflexão sobre a experiência totalitária não deixa de ser um ajuste de contas com a estada em Berlim. Em entrevista ao historiador Richard Graham, Sérgio Buarque recordou a gestação do livro: “(...) eu escrevi artigos tentando explicar o Brasil para os alemães. Só quando você está longe é que consegue ver seu próprio país como um todo. (...)”. A vivência do jovem repórter numa Berlim embriagada pela intensidade do presente, em aparência, eterno marcou sua compreensão da cultura brasileira. Sérgio Buarque sempre foi um folião, amante da música popular e do carnaval; um brilhante pesquisador, avesso ao ritual do dia-a-dia acadêmico. Ora, é como se a temporada em Berlim tivesse revelado uma diferença fundamental: em meio à festa e à boêmia dos anos 20, o tratamento cerimonioso da língua alemã se afasta da informalidade brasileira. Em lugar do respeitoso “Sie” (equivalente a senhor ou senhora), usado mesmo em ambientes descontraídos, os brasileiros, inclusive em situações formais, buscam o mais rapidamente possível deslizar para a intimidade prometida no simples “você”. Apesar da semelhança aparente de universos dominados por um cotidiano festivo e feérico, o repórter intuiu a diferença definidora! A CRIAÇÃO de cotas para negros e índios nas universidades, a reserva de vagas para minorias no funcionalismo público e o incentivo a que empresas privadas reproduzam tal sistema constituem grave equívoco. Tais proposições estão no projeto de Lei de Cotas (PL 73/1999) e no de Estatuto da Igualdade Racial (PL 1.198/00), que se encontram em fase final de tramitação no Congresso. Se implementados, representarão mais um obstáculo à superação da desigualdade no país, prejudicando as camadas desfavorecidas que em tese deveriam ser beneficiadas por tais medidas. GESNER OLIVEIRA, 50, é doutor em economia pela Universidade da Califórnia (Berkeley), professor da FGV-EAESP, presidente do Instituto Tendências de Direito e Economia e ex-presidente do Cade. Por Marcia Cezimbra. Fotos de Marco Antonio Rezende. Produção fotográfica de Rita Moreno INFORMÁTICA NO MATERNAL, canal de TV a cabo exclusivo para bebês, DVDs multissensoriais para recém-nascidos... Plugado na tecnologia, o que vai ser desse babynauta quando crescer? Um gênio de cérebro hiperativo? Um ser estranho, que terá mais intimidade com máquinas do que com outros humanos? Um adulto antenado com seu tempo? Estas questões invadiram os berçários e a agenda das mães do século XXI. O mundo eletrônico estimula ou atrapalha o desenvolvimento do bebê? Ele ficará mais inteligente se dominar o computador em aulas de informática? Desenvolverá a criatividade com imagens e cores ao som de Mozart, como na série americana de DVDs “Baby Einstein”? A economista Viviane Nunes Abreu Soares, mãe do bebê Diego Nunes Ribeiro, de 1 ano e 8 meses, na foto ao lado, não esconde do filho as novidades eletrônicas, mas estabelece limites para a TV e os DVDs: — O que eu apresento são os DVDs com formas, músicas e bichos. É do que ele mais gosta. Mas evito ao máximo. Para curtir a infância, valorizo mais o contato com a natureza e brincadeiras ao ar livre. Benefícios na medida certa Rosa Martins, coordenadora da creche Jardim Escola Vilhena de Moraes, no Leblon, que oferece aulas de informática já no maternal, a partir dos 3 anos, diz que, ao contrário de Viviane, muitas mães já exigem computadores para bebês de 1 ano: — As mães querem informática desde o berço! Aqui trabalhamos meios de transportes ou animais em computadores, a ferramenta do mundo atual. Mas só a partir dos 3 anos. Esse comportamento das mães é fenômeno cultural, resultante das descobertas da neurociência, sobretudo a partir da análise das imagens eletrônicas produzidas por estímulos neurais. As mudanças na percepção passaram a ser observadas tendo em vista as conexões entre áreas do cérebro. Nesta perspectiva, quanto mais estímulos receber o cérebro, melhor funcionaremos no mundo. Mas será que o desenvolvimento cerebral é a única prioridade da educação? Estas questões serão debatidas no congresso internacional “Neurociências e sociedade contemporânea”, de 2 a 4 de agosto, no Rio. Para o psicanalista Benílton Bezerra Jr., do Instituto de Medicina Social da Uerj, a idéia é refletir sobre o culto ao cérebro sem cair em visões equivocadas contrárias à tecnologia: — É preciso reconhecer as novas tecnologias e saber que qualquer uma delas pode ser usada para o bem ou para o mal — diz. O Globo - O País - pg. 05 - 10/7 BRASÍLIA. Após conversar com o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, o senador Paulo Paim (PT-RS), autor do Estatuto da Igualdade Racial, decidiu propor a realização no Congresso de audiência pública para buscar um consenso sobre as cotas propostas no seu projeto. Ele considera que é possível combinar critérios sociais e raciais em sua proposta e quer ouvir o governo e os grupos de intelectuais e representantes de entidades civis que lançaram manifestos contra e a favor das cotas. Aprovação do Estatuto não deve ocorrer este ano O senador Paim acha muito difícil aprovar o projeto ainda este ano por causa do calendário eleitoral e trabalha com a data de 21 de março, Dia Internacional de Luta contra o Racismo e o Preconceito, como referência para que o Estatuto entre em vigor. O Globo - Opinião - pg. 06 - 10/7 PAULO CÉSAR DE ARAÚJO O Dia - Opinião - pg. 06 - 10/7 O brasileiro não pode aceitar que o país surgido da miscigenação de raças seja igualado aos EUA, cujo povo é dividido em brancos e o resto -- negros, índios, amarelos ou estrangeiros. Assim, cotas para negros em universidades não resolve o probrema da educação e acaba virtando racismo. Jornal do Brasil - Cidade - pg. A16 - 10/7 O fator que mais contribui para impedir que uma pessoa curse uma universidade não é a cor, é o seu poder econômico. Daí pode surgir um corolário enviesado para justificar as cotas: os negros e nativos não têm poder econômico porque não fizeram universidade. Aparentemente a questão já está amadurecida para o ministro Tarso Genro, das Relações Institucionais, quando constata que o impedimento maior é econômico e não étnico. Basta os órgãos governamentais fornecerem ensino suficiente nas escolas Públicas, cursos específicos de preparação aos vestibulares e bolsas de estudo aos aprovados. As cotas propostas são racistas, injustas e inconstitucionais. Não haverá modo mais inteligente de realizar a inclusão e a igualdade social sem cair no critério racial que promove, exatamente, o confronto indesejável que se deseja evitar? José Renato de Almelda Jornal do Brasil - Opinião - pg. A11 - 10/7 UMA SOCIEDADE DE CIDADÃOS LIVRES parte do princípio de que podemos e devemos primeiramente governar a nós mesmos, antes de tentar governar os demais, regra que faz parte de nossos próprios atributos de pessoas humanas. A palavra “livre”, nesse tipo de sociedade, não se refere à liberdade para fazer tudo o que tivermos vontade de fazer, não importando o que seja, mas a uma disposição interior e um hábito adquirido, com o qual nos empenhamos para fazer o que é certo, valoroso e nobre. Luiz Biondi e Carlos Alberto |
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