Uerj - Notícias 29

Criada em 11/07/2006 08:34 por dirfen_biondi_ca | Marcadores: aluno fen func prof

Reproduzimos matérias publicadas no CLIPPING UERJ.

O Globo  -  Prosa & Verso  -  pg. 05  -   8/7
500 anos de estereótipos
 
Historiador americano desconstrói a ‘genialidade’ espanhola na colonização

Os sete mitos da conquista espanhola, de Matthew Restall. Tradução de Cristiana Serra. Editora Record, 364 pgs. R$48,90

Podemos conviver com sete mitos todos os sete dias da semana sem nos darmos conta. Mas o instigante livro do historiador americano Matthew Restall se propõe a uma desmistificação que não é ferozmente iconoclasta, nem se direciona para as mitologias indígenas, porém aos estereótipos e metáforas elaborados ao longo de cinco séculos pela civilização ocidental, da qual fazemos parte. Não se trata de narrativa sobre conquista de novas terras ou novos céus e galáxias, mas da difícil e dangerosíssima viagem (como já advertira Drummond) ao coração de nossa própria cultura.

Surgido da experiência em sala de aula somada às pesquisas minuciosas e ao convívio erudito de anos com o tema, o autor apresenta um elaborado e bem articulado ensaio, de linguagem acessível e fluente, sobre a Conquista da América pelos espanhóis no século XVI e as memórias, estereótipos e narrativas que daí brotaram. Utilizando a polissêmica expressão “mito” no sentido de ficção ou invenção metafórica, Restall não foge da raia e se posiciona diante de assuntos polêmicos e critica posições bastante difundidas em material didático, obras acadêmicas e, sobretudo, nos meios de comunicação, em filmes e pelo senso comum.

Idéia de superioridade branca é combatida

Os sete mitos são assim apresentados em sete capítulos: a idéia de que a Conquista foi realizada por um punhado de homens excepcionais, através de um exército bem organizado, composto somente por europeus e brancos, consumando-se de forma rápida e definitiva, através de modos de comunicação eficazes, gerando a desolação e extinção dos índios e baseada na superioridade indiscutível dos conquistadores. Quem já não ouviu ou leu algumas destas afirmações?

Para cada uma, o autor articula respostas precisas, dialoga com posições contrárias e fundamenta-se em documentos (nativos e espanhóis) e na historiografia dos séculos que seguiram. Numa época, como a atual, em que o etnocentrismo é banalizado e expressões como “Descobrimento” são naturalizadas, vale a pena prestar atenção em alguns dos argumentos. Entre as afirmações, está a de que os espanhóis, minoritários numericamente, só acabaram bem sucedidos na medida em que se aliaram com variadas populações nativas e foram acompanhados de africanos.

Destacam-se aí curiosas biografias de conquistadores negros, como Juan Valiente e Juan Garrido. Ou a presença crucial de muitos intérpretes e intermediários como a famosa Malinche, uma nobre maia que acompanhou as expedições de Cortés e com ele teve um filho. A genialidade visionária de Colombo é devidamente desmontada a partir dos registros da época, bem como a excepcionalidade de Cortés e sua autovalorização que se perpetuou pelos séculos, imagem que surgiu nos próprios relatórios que o guerreiro espanhol enviava para valorizar seus atos.

Tal revisionismo, está claro, não fica incólume. O próprio autor cita, por exemplo, o contra-argumento de Claude Lévi-Strauss, para quem os recentes questionamentos que alertam contra a vitimização dos índios não passam de tentativas de ocultar ou negar o holocausto praticado. Ao que Restall pondera que se trata de valorizar, justamente, o protagonismo dos povos indígenas e a capacidade destes em encontrar saídas e sobrevivências diante de situações difíceis e não serem apresentados apenas como vítimas desoladas e fadadas à extinção. O autor não acredita que houve um holocausto premeditado, apesar das violências atrozes e milhões de mortes que ocorreram, pois isso estaria em contradição com as intenções dos colonizadores de explorar a mão de obra das populações nativas e melhor conhecer e dominar seus territórios.

O autor alerta ainda para a difundida afirmação da superioridade bélica dos conquistadores, dada como fator explicativo neutro e inquestionável e que acaba sendo uma nova roupagem para o mito da superioridade européia, segundo ele, pois a defesa da preponderância cultural e civilizadora dos conquistadores perdeu força e não é mais politicamente correta. Entre os fatores decisivos para o desenlace, Restall cita as epidemias que mataram milhões de índios, a desunião ou multiplicidade das culturas nativas que não se aliavam facilmente, o uso do aço pelos europeus e o contexto histórico da expansão marítima que deu impulso decisivo à Conquista e posterior colonização.

O próprio termo “índio” é freqüentemente colocado entre aspas, na medida em que o historiador não aceita este rótulo genérico e impreciso (que até hoje envolve as populações nativas) e opta por citar os nomes específicos de grupos ou etnias.

América portuguesa
também marcada por mitos

Pairam sobre o livro (pelo menos para os leitores brasileiros) questionamentos de outros mitos, mesmo que não tratados por Restall, por estarem fora de seu objeto de estudo: às vezes semelhantes aos da América hispânica, às vezes específicos da colonização portuguesa e da identidade brasileira. Um deles justamente é o da superioridade cultural das populações nativas da América espanhola sobre as existentes no território que se tornou a América portuguesa. Premissa que levou intelectuais brasileiros em alguns contextos, inclusive no século XIX, a uma espécie de escapismo alegórico para os índios “superiores” do lado espanhol em detrimento do “primitivismo” dos que se encontravam do lado português.

Em obras famosas como “Casa-grande & senzala”, de Gilberto Freyre, há afirmação explícita de que os índios não guerrearam ou resistiram ativamente, mas se limitaram a uma resistência “passiva e vegetal”, beneficiados pela maleabilidade cultural do colonizador luso. Sem esquecer os rótulos de naturalismo ingênuo ou barbaridade feroz que com freqüência são associados aos grupos indígenas do Brasil, também não raro vistos como condenados à extinção ou “aculturação”, além de se tornarem objeto de curiosidades exóticas. O livro de Restall, diretor de Estudos Latino-Americanos da Pennsylvania State University, instiga estas e outras reflexões sobre nosso passado e nós mesmos.

MARCO MOREL é professor de História da Uerj e autor de “O período das Regências (1831-1840)”

O Globo  -  Cartas dos Leitores  -  pg. 06  -   8/7
Assaltos na Uerj
Marcos Antonio de Abreu Ferreira

Há pelo menos quatro anos denuncio o número crescente de assaltos no entorno do Maracanã e, principalmente, na rampa que liga a estação do metrô ao estádio e à Uerj. Já enviei e-mail para o Batalhão, dei sugestão de como eles podem prender os bandidos, colocando um policial disfarçado de usuário, informei que eles ficam embaixo da rampa, que liga o Metrô ao Maracanã, por sinal onde o assassino dos guitarrista dos Detonautas estava escondido, e nunca fizeram nada.

MARCOS ANTONIO DE ABREU FERREIRA

(via Globo Online, 7/7), Rio

A matéria só faz confirmar a violência naquela área e não é só à noite. Pela manhã, mais de 30 pivetes que se alojam embaixo da passarela que leva ao metrô aterrorizam pessoas que fazem exercícios na pista de corrida em volta do Maracanã e roubam quase que diariamente motoristas, principalmente mulheres e idosos, no engarrafamento entre 8h e 9h no sentido Centro e entre 18h e 19h no sentido Vila Isabel. Tem que haver um choque de ordem. Apesar de em alguns dias ficar um gol do 6º BPM na pista de descida da Radial Oeste, embaixo dessa passarela, os pivetes continuam tomando conta daquela área.

LUIS AUGUSTO CAVALLERO

(via Globo Online, 7/7), Rio
 
O Globo  -  Cartas dos Leitores  -  pg. 06  -   8/7
Cotas raciais
Carlos de Brito Imbassahy

Esta lei discriminatória de cotas para negros já separa as criaturas pela raça, o que seria crime constitucional; além disso, é arma de dois gumes, pois, se houver maior número de negros aprovados no vestibular do que o número de vagas previstas para os mesmos, será possível argüir sua limitação ao número referido de cotas previsto em lei. E, neste caso, a lei seria perniciosa para os negros. Só uma coisa não fica claro: somos ou não todos iguais perante a lei?

CARLOS DE BRITO IMBASSAHY

(por e-mail, 7/7), Niterói, RJ

A política de cotas raciais não passa de mais um copo de água com açúcar ministrado pelo governo para tentar abrandar a desigualdade social, problema que se arrasta há séculos, fruto de um processo de colonização sanguessuga e de uma libertação irresponsável, que promoveu toda essa segregação de oportunidades. As cotas ferem o princípio da igualdade, ou realmente se acredita que só negros, pardos, caboclos, mamelucos sofrem com tal desigualdade? Não existem brancos pobres, segregados socialmente? E como será feita esta distinção num país tão eclético em raça? Precisamos de um governo compromissado com a promoção real da igualdade social, e não de medidas do tipo bolsa, cheque, remédios e refeições a R$1, que se aproximam muito mais de caridade (sedução do eleitorado) do que de solução.

MATHEUS CHAGAS GIMENES

(por e-mail, 7/7), Campos dos Goytacazes, RJ
 
O Globo  -  Prosa & Verso  -  pg. 03  -   8/7
Raízes em Berlim
 
Obra clássica da cultura brasileira, ‘Raízes do Brasil’ faz 70 anos. Nesta página, uma viagem ao universo que inspirou o historiador

Em 2006, comemoramos os 70 anos da publicação de “Raízes do Brasil”. Nesse ensaio, Sérgio Buarque de Holanda definiu o “homem cordial”. A sociedade brasileira parece reconhecer-se no conceito, pois é comum que se aceite a cordialidade como maneira adequada de autodefinição.

O conceito foi formulado durante longa temporada na Alemanha, de junho de 1929 até dezembro de 1930, época em que Sérgio Buarque trabalhou como correspondente de “O Jornal”. Por fim, o conceito foi extraído da obra do filósofo político Carl Schmitt. Ora, se a cordialidade “traduz” o brasileiro, nossa identidade tem sotaque germânico...

JOÃO CEZAR DE CASTRO ROCHA é professor de literatura na Uerj, autor de “O exílio do homem cordial” e organizador de “Cordialidade à brasileira”, seleção de artigos lançada este ano pela Editora Museu da República


A gênese de um clássico


Correspondente eclético, Sérgio Buarque comentava de tudo um pouco: a situação política, a vida cultural, “o café brasileiro na Alemanha”, “as relações entre o Brasil e a Polônia”. O ponto alto do período em Berlim foi a entrevista com Thomas Mann, publicada em 16 de fevereiro de 1930. O autor de “A montanha mágica” tinha recebido o Prêmio Nobel. A entrevista é notável e contém, nas palavras do jovem repórter, uma revelação “relevante para os leitores brasileiros”: a mãe do escritor se chamava Júlia e nascera no Brasil. Por isso, conclui a reportagem com a bem-humorada observação: “Teremos, assim, de certo modo, um motivo razoável de orgulho e de alegria com essa vitória alemã na competição para o Prêmio Nobel”.

De volta ao Rio, Sérgio Buarque aperfeiçoou suas idéias, escrevendo artigos e textos mais tarde aproveitados no livro de estréia. O mais importante foi publicado em 1935, na revista “Espelho”. Denominava-se “Corpo e alma do Brasil” e representava um esforço de síntese do futuro livro. Qual a primeira noção tratada nesse texto? O homem cordial. A conclusão, abandonada no livro, torna-se cada dia mais instigante nas circunstâncias de um mundo globalizado: “Hoje somos um povo endomingado. Uma periferia sem um centro”. Teríamos perdido a espontaneidade, comprometendo gestos e intenções num ritualismo avesso à formação histórica brasileira. Delineou-se assim uma geografia incerta, habitada por homens cordiais, desterrados num país-continente, como se, por exemplo, desejássemos explicar o país com auxílio de pensadores alemães...

Em que medida, portanto, a experiência alemã influenciou a escrita de “Raízes do Brasil”? A vivência em Berlim contribuiu para a reflexão do historiador?


Sérgio Buarque chegou em Berlim num momento especial. Superada a crise ocasionada pela hiperinflação, a cidade vivia um instante feérico, com a proliferação de cabarés, cinemas, cafés, num dinamismo capturado na pintura de Ernst Ludwig Kirchner e na literatura de Alfred Döblin. O jovem jornalista, aliás, morou num endereço privilegiado, na esquina das ruas Uhland com a justamente célebre Kurfürstendamm, coração da vida urbana, ampla avenida que ainda hoje atrai turistas pelo luxo do comércio e pela vitalidade de sua movimentação.

O conceito de “Jetztheit”, proposto por Walter Benjamin, define muito bem a Berlim dessa época. Haroldo de Campos traduziu o termo com o sugestivo “agoridade”, expressando o predomínio do aqui e agora, da fruição imediata dos sentidos, como se o mundo estivesse com os dias contados.

E, de fato, estava. A Berlim alegremente irresponsável começou a dar lugar a uma cidade muito diferente, intimidada pelo crescimento do partido nacional-socialista, que chegaria ao poder apenas três anos após a partida do brasileiro. No último capítulo de “Raízes do Brasil”, aliás, a reflexão sobre a experiência totalitária não deixa de ser um ajuste de contas com a estada em Berlim. Em entrevista ao historiador Richard Graham, Sérgio Buarque recordou a gestação do livro: “(...) eu escrevi artigos tentando explicar o Brasil para os alemães. Só quando você está longe é que consegue ver seu próprio país como um todo. (...)”.

A vivência do jovem repórter numa Berlim embriagada pela intensidade do presente, em aparência, eterno marcou sua compreensão da cultura brasileira. Sérgio Buarque sempre foi um folião, amante da música popular e do carnaval; um brilhante pesquisador, avesso ao ritual do dia-a-dia acadêmico. Ora, é como se a temporada em Berlim tivesse revelado uma diferença fundamental: em meio à festa e à boêmia dos anos 20, o tratamento cerimonioso da língua alemã se afasta da informalidade brasileira. Em lugar do respeitoso “Sie” (equivalente a senhor ou senhora), usado mesmo em ambientes descontraídos, os brasileiros, inclusive em situações formais, buscam o mais rapidamente possível deslizar para a intimidade prometida no simples “você”. Apesar da semelhança aparente de universos dominados por um cotidiano festivo e feérico, o repórter intuiu a diferença definidora!
 
Folha de São Paulo  -  Folha Dinheiro  -  pg. B02  -   8/7
Populismo das cotas
 
Há razões para a ação afirmativa, mas a forma do governo para enfrentar o problema agride o bom senso

A CRIAÇÃO de cotas para negros e índios nas universidades, a reserva de vagas para minorias no funcionalismo público e o incentivo a que empresas privadas reproduzam tal sistema constituem grave equívoco. Tais proposições estão no projeto de Lei de Cotas (PL 73/1999) e no de Estatuto da Igualdade Racial (PL 1.198/00), que se encontram em fase final de tramitação no Congresso. Se implementados, representarão mais um obstáculo à superação da desigualdade no país, prejudicando as camadas desfavorecidas que em tese deveriam ser beneficiadas por tais medidas.
O objetivo de combater a discriminação é louvável. O Brasil nunca foi e não é uma democracia racial. As estatísticas disponíveis indicam abismo social em desfavor de negros. Há razões para a chamada ação afirmativa por parte do Estado e da sociedade. Mas a forma patrocinada pelo governo para enfrentar o problema agride o bom senso.
A discriminação racial não é menor no Brasil do que em outros países, como os EUA. Quem já a sentiu na pele sabe que o preconceito aqui não tem nada de cordial. É só diferente. Essa lição foi transmitida há mais de meio século pelo saudoso sociólogo Oracy Nogueira. No Brasil, prevaleceria "preconceito de cor (ou de marca)", caracterizado pela discriminação em razão de traços físicos do indivíduo. Nos EUA, ocorreria o "preconceito de origem", marcado pela exclusão em razão de pertinência a determinada etnia.
Nesse último caso, haveria uma auto-identificação natural do grupo discriminado. Em contraste, a química social brasileira permitiria a troca de cor ao longo do tempo mediante a miscigenação. Ao pesquisar famílias de descendentes de ilustres negros do século 19, chamou a atenção do professor Oracy o fato de encontrar uma grande maioria de brancos. O "branqueamento" passaria a ser uma das estratégias de ascensão e sobrevivência. Nesse contexto, não é trivial quitar "nossa dívida histórica com os negros", como quer o manifesto a favor da proposta de cotas divulgado nesta semana. Ou, no mínimo, torna ambígua a definição de grupos raciais para efeito de criação de direitos, como têm alertado estudiosos como Simon Schwartzman e Eunice Durham.
Outro pecado capital no sistema de cotas é a dissociação entre mérito acadêmico e a obtenção de uma vaga. Segundo as regras defendidas pelo governo, o aluno ganha mais pontos por ser negro, e não por ter rendimento escolar de excelência. Trata-se de discriminação que, pela sua própria natureza, é ineficiente. Trata-se de discriminação reversa que é tão injusta quanto a original e geradora de grupos de interesse que passam a fazer lobby pela perpetuação de seus privilégios.
Um sistema de cotas dissociado do mérito acadêmico reduz ainda mais a qualidade e a reputação das universidades públicas. Isso enfraquece mecanismo de mobilidade social. Um diploma de uma boa universidade não acrescenta muito para quem tem dinheiro e relacionamento social. Mas pode ser a única via de ascensão possível para o pobre. A avacalhação do sistema de acesso ao ensino superior é, portanto, regressiva; prejudica mais aqueles que dependem da escola pública para melhorar seu padrão de vida.
Há alternativas para atingir os objetivos do sistema de cotas sem incorrer em seus defeitos. Artigo do teórico de direito e economia Robert Cooter da Universidade da Califórnia mostra, por exemplo, como incentivos flexíveis são superiores a fórmulas centralizadoras e burocráticas como o sistema de cotas. A prioridade ao ensino público básico de boa qualidade constitui instrumento poderoso no médio prazo.
Mas há boas propostas de curto prazo, como os cursinhos preparatórios gratuitos para comunidades carentes. Ou ainda o reforço das bolsas de estudo, emprego temporário na própria universidade e crédito educativo. Recursos adicionais para tais programas podem ser obtidos mediante contribuições de alunos, dimensionadas de acordo com a capacidade de pagamento das famílias. Uma agenda dessa natureza terminaria com a mamata de ensino superior gratuito para uma minoria de privilegiados. À qual se pretende agregar sistema populista de cotas.

GESNER OLIVEIRA, 50, é doutor em economia pela Universidade da Califórnia (Berkeley), professor da FGV-EAESP, presidente do Instituto Tendências de Direito e Economia e ex-presidente do Cade.
Internet:
www.gesneroliveira.com.br
gesner@fgvsp.br
 
O Globo  -  Revista OGlobo  -  pg. 20  -   9/7
Infância eletrônica
 
Especialistas apontam os melhores caminhos para estimular o aprendizado da criança do século XXI

Por Marcia Cezimbra. Fotos de Marco Antonio Rezende. Produção fotográfica de Rita Moreno

INFORMÁTICA NO MATERNAL, canal de TV a cabo exclusivo para bebês, DVDs multissensoriais para recém-nascidos... Plugado na tecnologia, o que vai ser desse babynauta quando crescer? Um gênio de cérebro hiperativo? Um ser estranho, que terá mais intimidade com máquinas do que com outros humanos? Um adulto antenado com seu tempo? Estas questões invadiram os berçários e a agenda das mães do século XXI. O mundo eletrônico estimula ou atrapalha o desenvolvimento do bebê? Ele ficará mais inteligente se dominar o computador em aulas de informática? Desenvolverá a criatividade com imagens e cores ao som de Mozart, como na série americana de DVDs “Baby Einstein”?

A economista Viviane Nunes Abreu Soares, mãe do bebê Diego Nunes Ribeiro, de 1 ano e 8 meses, na foto ao lado, não esconde do filho as novidades eletrônicas, mas estabelece limites para a TV e os DVDs:

— O que eu apresento são os DVDs com formas, músicas e bichos. É do que ele mais gosta. Mas evito ao máximo. Para curtir a infância, valorizo mais o contato com a natureza e brincadeiras ao ar livre.

Benefícios na medida certa

Rosa Martins, coordenadora da creche Jardim Escola Vilhena de Moraes, no Leblon, que oferece aulas de informática já no maternal, a partir dos 3 anos, diz que, ao contrário de Viviane, muitas mães já exigem computadores para bebês de 1 ano:

— As mães querem informática desde o berço! Aqui trabalhamos meios de transportes ou animais em computadores, a ferramenta do mundo atual. Mas só a partir dos 3 anos.

Esse comportamento das mães é fenômeno cultural, resultante das descobertas da neurociência, sobretudo a partir da análise das imagens eletrônicas produzidas por estímulos neurais. As mudanças na percepção passaram a ser observadas tendo em vista as conexões entre áreas do cérebro. Nesta perspectiva, quanto mais estímulos receber o cérebro, melhor funcionaremos no mundo. Mas será que o desenvolvimento cerebral é a única prioridade da educação? Estas questões serão debatidas no congresso internacional “Neurociências e sociedade contemporânea”, de 2 a 4 de agosto, no Rio.

Para o psicanalista Benílton Bezerra Jr., do Instituto de Medicina Social da Uerj, a idéia é refletir sobre o culto ao cérebro sem cair em visões equivocadas contrárias à tecnologia:

— É preciso reconhecer as novas tecnologias e saber que qualquer uma delas pode ser usada para o bem ou para o mal — diz.

O Globo  -  O País  -  pg. 05  -   10/7
Cotas raciais: governo admite mudar projeto
Regina Alvarez e Patricia Duarte

BRASÍLIA. Após conversar com o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, o senador Paulo Paim (PT-RS), autor do Estatuto da Igualdade Racial, decidiu propor a realização no Congresso de audiência pública para buscar um consenso sobre as cotas propostas no seu projeto. Ele considera que é possível combinar critérios sociais e raciais em sua proposta e quer ouvir o governo e os grupos de intelectuais e representantes de entidades civis que lançaram manifestos contra e a favor das cotas.
Já aprovado no Senado, o Estatuto agora tramita na Câmara. Paim também quer saber a posição do governo sobre a polêmica. Tarso Genro disse que o governo mantém  o apoio ao Estatuto, mas demonstrou preocupação com uma possível radicalização em torno das cotas, polarizando negros e brancos.
— Não queremos que uma radicalização possa prejudicar a aprovação do projeto. Vamos procurar pontos de diálogo e ver se o Estatuto precisa de alguma mudança — afirmou o ministro.
Paim ligou para Genro no sábado, depois de ler entrevista no jornal “O Estado de S.Paulo”, na qual o ministro afirmou ser favorável a cotas sociais.
— O ministro me garantiu que o governo não está retirando apoio nem desfazendo o acordo para a aprovação do Estatuto — disse o senador.
O ministro declarou que o governo apóia o Estatuto, mas frisou que o Palácio do Planalto está aberto para discutir mudanças no texto. Ele não confirmou a intenção do governo de trocar as cotas raciais por cotas sociais. Indagado sobre esta proposta, Genro respondeu apenas que o governo já tem projetos que trazem mecanismos de corte social, como o que reserva 50% das vagas das universidades públicas para alunos que tenham cursado o ensino médio em escolas públicas. Ele argumentou que 90% das pessoas que estudam nessas escolas são de baixa renda ou, no máximo, de classe média baixa.
— Dentro desse universo, tem um percentual grande de afro-descendentes. O ponto de partida é social — afirmou.
Já o senador Paulo Paim acha que o debate no Congresso pode contribuir para que se construa um texto final para o projeto que atenda o objetivo de inclusão proposto no   Estatuto.
— O grande debate é sobre as cotas. Acho que dá para combinar a questão social e econômica com a questão racial. O importante é construir um estatuto que contribua para a inclusão daqueles que estão marginalizados — afirmou.
O Estatuto da Igualdade Racial foi aprovado no Senado a partir de um amplo acordo entre governo e oposição e agora está em uma comissão especial na Câmara. Ele determina que 20% dos cargos em comissão e de assessoramento superior da administração pública sejam
reservados para negros, entre outras exigências.

Aprovação do Estatuto não deve ocorrer este ano

O senador Paim acha muito difícil aprovar o projeto ainda este ano por causa do calendário eleitoral e trabalha com a data de 21 de março, Dia Internacional de Luta contra o Racismo e o Preconceito, como referência para que o Estatuto entre em vigor.
— Não estou preocupado com o tempo. O debate deve ter o tempo necessário para que a proposta seja amadurecida e resulte no melhor para o combate ao racismo —acrescentou Paim.

O Globo  -  Opinião  -  pg. 06  -   10/7
Cotas raciais
 
Está de parabéns um grupo de intelectuais que no dia 29 de junho levou ao Congresso um documento contra as cotas para negros nas universidades públicas. Cito-me como  exemplo: de cor parda conforme consta na minha Certidão de Nascimento, mantenho esta cor também em todos os outros documentos quando necessário mencioná-la e faço questão de frisar em qualquer tipo de documentação que minha cor continua sendo esta. Penso que não é
reservando cotas para negros, pardos ou brancos que será  resolvido o problema social ou econômico de alguém.

PAULO CÉSAR DE ARAÚJO
(por e-mail, 1/7), Rio

O Dia  -  Opinião  -  pg. 06  -   10/7
Cotas para negros não resolve nada
Valdemiro Dielle

O brasileiro não pode aceitar que o país surgido  da miscigenação de raças seja igualado aos EUA, cujo povo é dividido em brancos e o resto -- negros, índios, amarelos ou estrangeiros. Assim, cotas para negros em universidades não resolve o probrema da educação e acaba virtando racismo.
Valdemiro Dielle, por e-mail
 
Jornal do Brasil  -  Opinião  -  pg. A10  -   10/7
A oficialização dos privilégios

 
À VÉSPERA DA decisão final do Congresso sobre os projetos de lei de cotas e do Estatuto da Igualdade Racial, o debate ganhou vigor com dois manifestos, dirigidos na semana passada à Câmara dos Deputados, assinados por mais de duas centenas de intelectuais. Os dois documentos ajudam a clarear as sombras existentes por trás da tentativa de se buscar atalhos para superar as baixíssimas taxas de acesso dos negros ao ensino superior e aos postos mais valorizados no mercado de trabalho.
O confronto e a relevância argumentativa dos manifestos não eximem o país de concluir que, sob a máscara das boas intenções, os projetos em tramitação revelam-se um desastre social. De boas intenções, ensinou São Bernardo, o inferno está cheio. A Lei de Cotas (pL 73/1999) e o Estatuto da Igualdade Racial (PL 3:198-2000) não Só afrontam a Constituição como conduzem o Biãsil a um retrocesso perturbador. A fim de dirimir desequilíbrios estruturais, dividem a nação e ampliam a desigualdade. Tentam reduzir preconceitos, mas aprofundam os desfiladeiros econômicos e Sociais que separam negros,  brancos e indígenas.
Um principio baliza a Constituição brasileira: todos os cidadãos São. iguais política e juridicamente. É para alcançar tal premissa universalista que existe o Estado. Diversos dispositivos propostos, no entanto, ameaçam esse principio. A Lei de Cotas torna obrigatória. a reserva de vagas para negros e indígenas nas instituições federais de ensino superior. O Estatuto da Igualdade Racial vai mais adiante. Prevê classificação racial oficial dos brasileiros, estabelece cotas raciais no serviço público e cria privilégios adicionais para empresas privadas que usem cotas raciais para contratar funcionários.
Os argumentos são conhecidos. Tisnado por uma colonização fundamentada na escravidão, o Brasil Levou a população de origem africana a níveis de renda e condições de vida precários. O preconceito e a discriminação vigentes, insistem os defensores das cotas, contribuem para a manutenção das coisas. Diante dos dilemas, exigem-se programas compensatórios para pagar. uma dívida social para herdeiros de um passado desvantajoso. Recorre-se ainda ao que consideram imobilismo subjacente à Constituição de 1891 que, embora tenha lavrado a abolição do escravismo, não teria abolido seqüelas de exclusão e racismo.
Com tais argumentos, ignora-se, por exemplo, que enraizados na sociedade brasileira estão preconceitos de classe. Há, sim, abismos profundos entre ricos e pobres.
Outro equívoco dos projetos e de seus defensores é que deixa o país retalhado em grupos hostis - brancos, negros, amarelos e índios. Confunde-se a existência da espécie humana com raças humanas. Ao aceitarem uma humanidade dividida em raças, admitem-se as diferenças biológicas _ atalho
para convicções de superioridade, algo que a história, felizmente, já condenou.
Do ponto de vista histórico, o Brasil livrou-se há muito pouco tempo do escravagismo _ pouco mais de 100 anos. Por diversas gerações, negros e pardos permanecem com menor acesso à escola, a melhores salários e a mais empregos. Tais fraturas, contudo, não justificam a opção por atalhos demagógicos. Requer-se paciência, tempo e trabalho para superá-las. Investimentos mais musculosos na educação fundamental podem ser mais eficientes a longo prazo do que a efetivação das cotas. Recusar esse mecanismo não significa discriminação. Ao contrário. É um modo de evitar que o pa´s acabe na obscuridade de preconceitos ainda maiores, decorrentes de uma divisão descabida entre privilegiados ou não pela cor.

Jornal do Brasil  -  Cidade  -  pg. A16  -   10/7
Tudo pela educação

 
Será amanhã na Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), 04° Fórum Universitário Pearson, promovido pela Editora Pearson Education. O evento, dirigido a profissionais da área de educação, reunirá nomes importantes do setor para discutir os desafios do ensino superior no Brasil. Na ocasião, serão apresentados dois debates e várias palestras, que tratam de temas ligados à educação.
O primeiro debate tem como tema os desafios do ensino superior no Brasil e contará com a participação de André Mendes, diretor de relações institucionais da Universidade Candido Mendes, Antonio Freitas, diretor de graduação da Fundação Getúlio Vargas/Rio, Renato Carneiro, diretor de logística da Universidade Estadual do Rio de Janeiro e coordenador de pós-graduação da Marinha Brasileira e Alexandre Mathias, diretor geral da Escola Superior de Propaganda e Marketing.
 
Jornal do Brasil  -  Cartas ao Editor  -  pg. A10  -   10/7
Cotas
José Renato de Almelda

O fator que mais contribui para impedir que uma pessoa curse uma universidade não é a cor, é o seu poder econômico. Daí pode surgir um corolário enviesado para justificar as cotas: os negros e nativos não têm poder econômico porque não fizeram universidade. Aparentemente a questão já está amadurecida para o ministro Tarso Genro, das Relações Institucionais, quando constata que o impedimento maior é econômico e não étnico. Basta os órgãos governamentais fornecerem ensino suficiente nas escolas Públicas, cursos específicos de preparação aos vestibulares e bolsas de estudo aos aprovados. As cotas propostas são racistas, injustas e inconstitucionais. Não haverá modo mais inteligente de realizar a inclusão e a igualdade social sem cair no critério racial que promove, exatamente, o confronto indesejável que se deseja evitar?

José Renato de Almelda

Jornal do Brasil  -  Opinião  -  pg. A11  -   10/7
Família e educação
Ubiratan Iorio

UMA SOCIEDADE DE CIDADÃOS LIVRES parte do princípio de que podemos e devemos primeiramente governar a nós mesmos, antes de tentar governar os demais, regra que faz parte de nossos próprios atributos de pessoas humanas. A palavra “livre”, nesse tipo de sociedade, não se refere à liberdade para fazer tudo o que tivermos vontade de fazer, não importando o que seja, mas a uma disposição interior e um hábito adquirido, com o qual nos empenhamos para fazer o que é certo, valoroso e nobre.
O propósito essencial da educação liberal é precisamente permitir-nos ser livres para governar, partilhar e conhecer - governar a nós mesmos, partilhar nosso conhecimento e ações com os demais e conhecer a verdade das coisas, tanto aquelas dos homens como as divinas. Por isso, nossos propósitos precisam ser moralmente bons.
Traficantes, ladrões, políticos corruptos e quadrilheiros são, na maioria das vezes, disciplinados, no sentido de agirem para alcançar objetivos indignos. Portanto, é preciso saber discernir entre bons e maus propósitos. Mas é difícil distinguir o que é um objetivo nobre, se primeiramente não formos conduzidos e habituados de modo apropriado, o que requer educação, esforço, escolha e experimentação, em um processo de erros e tentativas. E isto começa, necessariamente, pela família, queiramos ou não.
A família constitui, efetivamente, uma comunidade de amor e solidariedade, insubstituível para o ensino e a transmissão dos valores culturais, éticos, sociais e espirituais, essenciais para o desenvolvimento e bem-estar de seus próprios membros e da sociedade. Com a obra educativa, a família forma o homem para a plenitude da sua dignidade pessoal, segundo todas as suas dimensões, inclusive a social. Em sua missão educativa, a família contribui para o bem comum e constitui a primeira fonte das virtudes individuais e sociais. As pessoas são ajudadas, em família, a crescer na liberdade e na responsabilidade,
requisitos indispensáveis para assumir qualquer tarefa na sociedade. Com a educação, ademais, são ensinados, para serem assimilados e apropriados por cada um, os valores fundamentais, absolutamente necessários para a formação de cidadãos livres, trabalhadores, dedicados, responsáveis e honestos.
João Paulo II, na exortação apostólica Familiaris consortio, de 1982, já fazia notar que a família tem um papel todo original e insubstituível na educação dos filhos. O direito-dever dos pais de educarem a prole se qualifica como essencial, por estar ligado à transmissão da vida humana; como original e primário, pela relação de amor que subsiste entre pais e filhos; e como insubstituível e inalienável, e, portanto, não delegável totalmente a outros - inclusive ao Estado - ou por eles usurpável.
Os pais, porém, são os primeiros mas não os únicos educadores de seus filhos. Compete-Ihes exercer com sentido de responsabilidade a sua obra educativa, em colaboração estreita e vigilante com os demais. Têm o direito de escolher os instrumentos formativos correspondentes às próprias convicções e de buscar os meios que possam ajudá-Ios da melhor maneira na sua tarefa de educadores, mesmo no âmbito espiritual e religioso. As autoridades públicas têm o dever de garantir tal direito e de assegurar as condições concretas que permitem o seu exercício, o que mostra a relevância da colaboração entre a família, as escolas e o restante do sistema ético, social e cultural.
Quando a instituição da família se enfraquece, é evidente que não se pode esperar muito do sistema educacional, porque o Estado - mesmo se admitirmos a hipótese, remotíssima, de que aja sempre na mais pura das intenções - não tem, por definição, condições para exercer as funções naturalmente inerentes à família, com todos os seus desdobramentos. Daí a importância da valorização da família no processo educacional e, por conseguinte, no desenvolvimento individual e social.

Luiz Biondi e Carlos Alberto
Direção da FEN
Gestão Participativa



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