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Luiz Henrique Aguiar Azevedo é graduado em geologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e doutor em geografia física pela
Universidade de São Paulo. Possui especialização em Remote Sensing Of Earth Resources pela Nasa, em Remote Sensing Of Natural
Resources pela Michigan State University, em Radar And Passive Microwave pela University of Kansas, em Remote Sensing In Geology
pela Stanford University, em Remote Sensing Practical Classes & Friends Studies pela United States Geological Survey, em Natural
Resources And Remote Sensing pela Berkley University e em Remote Sensing From Spacecraft And Aircraft pela Earth Satellite Co.
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Um bom sistema de informações é essencial para o desenvolvimento do país A informação é algo indispensável para o desenvolvimento de qualquer projeto. Além disso, torna-se imprescindível um programa que
facilite o acesso a elas e que seja de fácil uso por qualquer pessoa. Pensando nisso, Luiz Henrique Aguiar de Azevedo, professor
adjunto de Sensoriamento Remoto do Departamento de Engenharia Cartográfica da Faculdade de Engenharia da Uerj, criou o SISPLAMTE
(um software que produz informação). A idéia do sistema surgiu quando Luiz Henrique coordenava o RADAM, projeto por ele concebido
para levantar o potencial da região Amazônica. O software pode ser aplicado em qualquer outro setor da economia, enfatiza Luiz. O que foi o projeto RADAM? Como o senhor participou? Luiz Henrique - Foi um projeto estruturado na década de 70 (século XX) para fazer o levantamento dos recursos naturais de toda a Amazônia brasileira (4.500.000 km²). Para isso, foi usado um equipamento chamado RADAR (Radio Detection and Ranging). Esse equipamento estava instalado em um avião Caravelle que sobrevoava a Amazônia a 11 km de altura. O sinal de radar atravessa as nuvens e fornece uma imagem de todo o terreno. Essa imagem permite que os técnicos traduzam o ambiente fí sico e vejam, por exemplo, o tipo de solo e de vegetação. Com o sucesso do projeto, o RADAM foi estendido para a região Nordeste e, depois, para todo o território do paí s, recebendo o nome de RADAM BRASIL. O radar fez o levantamento do nosso território com especificações semelhantes a de um satélite lançado pela NASA na época, chamado ERTS 1, o que permitiu a comparação das imagens obtidas pelos dois sistema. Eu era responsável pela coordenação geral do projeto.  Aeronave Caravelle - PTDUW utilizada pelo projeto RADAM Como surgiu a idéia do projeto RADAM? Luiz Henrique - A idéia de montar o RADAM surgiu quando eu estava na Nasa, participando no programa espacial na qualidade de Principal Investigator na área de meio ambiente e recursos terrestres. Tive que fazer um curso de especialização em RADAR em um dos maiores fabricantes do mundo. Após o primeiro contato com o equipamento pensei em aplicá-lo na Amazônia, pois, pelo fato de o local ter muitas nuvens, não seria possí vel tirar fotografias de avião através de câmeras comuns e, sem uma fotografia, os técnicos, geólogos, engenheiros e outros não poderiam estudar o meio ambiente amazônico. A única forma de fazer o estudo seria por meio de um sensor, que penetrasse nas nuvens. Um equipamento que faz esse trabalho é o radar. Na mesma época eu pertencia ao Ministério de Minas e Energia e sugeri ao então ministro a criação do projeto. Ele aceitou.  O primeiro documento formal que deu origem ao projeto RADAM Qual o primeiro passo dado após a criação do projeto? Luiz Henrique - Foi importada uma aeronave dos EUA e equipamentos. Começamos a fazer o levantamento da Amazônia. Em dois anos já tínhamos inúmeros técnicos. A demanda por tanta gente se deveu ao fato de as imagens do radar se aplicarem a diversas áreas: solo, vegetação, geologia, cartografia, dentre outras. No início, todos os técnicos ficavam no Rio de Janeiro, posteriormente em Belém, numa base que gerenciava toda a Amazônia. Quando o projeto passou a abranger todo o Brasil foram instaladas bases menores em cada capital.  Estrutura Geológica em imagem de Radar do projeto RADAM O projeto RADAM teve desdobramento aqui na UERJ? Luiz Henrique - O levantamento das imagens durou um ano e meio. O projeto todo, duas décadas, 70 e 80. Até hoje as imagens, os relatórios e mapas do RADAM são utilizados no Brasil e no exterior. Na própria Uerj, as faculdades de Geografia e Geologia usam bastante o RADAM para fazer mapas, estudos do meio ambiente etc. Atualmente, existe um projeto denominado RADAM D, coordenado pelo professor Iris Escobar, envolvendo professores e alunos da Uerj, que visa a digitalizar as informações obtidas pelo RADAM e processar correções geométricas. Este projeto é também de interesse da CPRM - Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais. Como se desenvolveu o seu trabalho junto a NASA? Luiz Henrique - Nas décadas de 60 e início de 70 eu participei de um programa na NASA, no Manned Spacecraft Center - MSc, em Houston. Nesse perí odo eu estava fazendo um trabalho na área de sensoriamento remoto e a NASA estava lançando no mundo uma tecnologia de obtenção de informações através de satélites. Os equipamentos presentes no satélite se chamam sensores remotos. Ainda hoje faço pesquisas junto a NASA. Levo idéias daqui da Uerj para lá e, caso eles aprovem, passam a investir na pesquisa. Qual o conceito do brasileiro numa instituição com tanto prestigio como a NASA? Luiz Henrique - O norte-americano é muito preso a uma disciplina especifica. Individualmente, muitos não tinham uma visão ampla dos vários conhecimentos. Quem estuda geologia, por exemplo, só sabe geologia. No Brasil o ensino é diferente. Sou geólogo, mas tivemos muita base em física e matemática, coisa que naquela época eles não tinham. Então, eu, brasileiro, acredito ter me saí do muito bem. O sensor remoto, associa meio ambiente com matemática e física, coisa que sabíamos e gostávamos bastante. Prova disso é que naquele projeto, um avião da NASA veio ao Brasil especificamente para obter dados de áreas de nosso interesse na pesquisa. Fizemos um sobrevoo, antes do Radam, em Minas Gerais, com avião repleto de equipamentos. Uma equipe de 15 pessoas fez medidas no campo. Após, o avião rumou para Cabo Frio (RJ) para fazer pesquisas com a temperatura das suas águas. Depois, foi para Campinas testar a tecnologia em áreas agrí colas. Finalmente, voltamos para Houston onde fizemos o tratamento dos dados e das imagens. O pesquisador brasileiro em nada fica atrás do americano. Até hoje a NASA nos manda informações que pedimos para melhorar nossas pesquisas. |
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O que é SISPLAMTE? Luiz Henrique - O SISPLANTE é um software que produz informação a partir de dados oriundos de satélites, embora eles também possam vir de outras fontes. Após traduzir esses dados as informações resultantes são referenciadas cartograficamente, ou seja, elas são expostas através de mapas. O diferencial é que seu uso é simples, não sendo necessário formação especifica em computação. É utilizado em diversos setores da economia por instituições ou profissionais. Um Secretário de uma prefeitura poderá solicitar ao SISPLAMTE que informe os locais mais indicados para instalação de escolas; o responsável pela saúde também pode levantar a mesma questão quanto a localização de suas unidades de saúde. São inúmeras as aplicações do sistema destacando-se as áreas de segurança, agricultura, meio ambiente, planejamento urbano, saneamento e outras. De que forma surgiu a idéia do SISPLAMTE? Luiz Henrique - No RADAM tí nhamos inúmeros técnicos de diferentes áreas instalados em Belém e estes desejaram utilizar um sistema de informação inovador na época chamado SIG, com o intuito de agilizar as investigações. Conseguimos dois softwares nos EUA e um na Europa . Porém, não conseguimos utilizá-los porque eram muito complexos. O SIG acabou atrapalhando mais do que ajudando. A partir daí resolvi desenvolver o SISPLAMTE para ser utilizado por qualquer pessoa sem necessidade de conhecimento da ferramenta. Pode-se comparar o sistema com um banco 24 horas, que não sabemos como funciona, porém, sabemos usar. Da mesma forma que o utilizador do SISPLAMTE, ele não se importa como funciona, apenas busca a informação que necessita. Qual o vínculo formal dele com a UERJ? Luiz Henrique - O projeto SISPLAMTE foi financiado pela SENSORA e cedido à nossa Universidade para utilização em seus projetos. É como se a Microsoft cedesse o Windows para uso na Uerj. Ele é utilizado em algum projeto na UERJ? Quais? Luiz Henrique - Ele é mais utilizado pelos alunos da engenharia. Alguns mestrandos estão fazendo suas dissertações utilizando o SISPLAMTE assim como existem doutorandos em meio ambiente utilizando-o em suas teses. O sistema é usado também em projetos de professores da Faculdade de Engenharia e Oceanografia. Estamos também mapeando os Campi da Universidade através das plantas. O SISPLAMTE aplicado sobre o campus da Ilha Grande já está praticamente finalizado.  SISPLAMTE aplicado na prefeitura de Mangaratiba Como ele é usado pelo projeto do professor Elmo, o COGERE? Luiz Henrique - O SISPLANTE mapeia os laboratórios de todo um andar e cria um banco de dados de locais que apresentam resí duos. Com a implementação do sistema, a planta da sala é visualizada e sabe-se o tipo de resí duo que existe ali. O SISPLAMTE funciona como um gestor de resíduos para o COGERE. Existe outro sistema para substituir? Luiz Henrique - Quando eu estava na NASA participei de um encontro em que estavam reunidas agências espaciais do mundo todo. Elas planejaram que da década de 70 até 2010 iriam ser lançados cerca de 100 satélites voltados ao estudo do planeta Terra. Todos eles deveriam coletar dados sistematicamente de um mesmo lugar do planeta Terra. A quantidade de dados que vem sendo coletados com infravermelho, radiações visí veis e microondas, é muito grande. Porém, não adianta haver um monte de dados se não forem transformados em informações úteis à sociedade. Por isso, surgiram no mundo os SIGs, que transformam esses dados em informação. Esses famosos SIGs seriam teoricamente concorrentes do SISPLAMTE, mas o diferencial é que poucos conseguem usá-los de forma expedita. Ele é utilizado em algum projeto fora da UERJ? Quais? Luiz Henrique - Com a equipe da Uerj, desenvolvemos novas aplicações para o programa, através do SISPLAMTE setorial, com diferentes versões. Existe a versão para prefeituras que visa a planejar o desenvolvimento municipal, em utilização em Angra dos Reis, Três Rios, Mangaratiba, Quissamã e Parati. E, ainda, a versão para gestão agropecuária, que objetiva a análise e registro das 65 mil propriedades rurais do Estado do Rio de Janeiro. Já trabalhamos também em um projeto de ecologia do IBAMA. Estamos desenvolvendo um programa para o turismo, o SAT-TUR, que permite a escolha numa cidade com relação a hospedagens, restaurantes, pontos turí sticos etc. Em 2009, com a troca das gestões municipais, iremos apresentar o programa aos novos prefeitos, visando focá-lo em diferentes áreas dentro do Estado, como os setores de educação e saúde. Queremos instalar o programa em todas as cidades para que as prefeituras consigam planejar seu desenvolvimento, o que possibilita o envolvimento de outros cursos da Uerj. Temos também projetos para o exterior, como o mapeamento da cidade do Cairo, no Egito, nos moldes do SAT-TUR.  Prof. Luiz Henrique Aguiar de Azevedo Qual a importância do seu projeto para o desenvolvimento do Brasil? Luiz Henrique - No Brasil há um grande problema: a falta de planejamento. Enquanto o japonês leva um ano planejando algo e um mês para executá-lo, o brasileiro leva um dia planejando e cinquenta anos executando. A matéria prima principal para realização de qualquer projeto é a informação, ela é a base para se fazer um projeto bem feito. O SISPLAMTE se propõe a dar informações precisas, confiáveis, de forma simples e acessível até para leigos. Por exemplo, no momento que uma prefeitura tem informação real sobre o número e qualidade das casas que a compõe, ela ganha em impostos. Em Parati existem bairros nos quais mais de 30 % das casas não pagam impostos. O SISPLAMTE fornece informações concretas, e no momento que o homem as possui ele consegue planejar. No Nordeste águas subterrâneas poderiam ser detectadas caso as autoridades resolvessem usar as tecnologias hoje disponíveis, inclusive o SISPLAMTE. No Rio de Janeiro, o governo poderia ter informações sobre as 65 mil fazendas existentes, coisa que não tem. Dados sobre desmatamentos na Amazônia, Mata Atlântica, Pantanal são coletados mensalmente por satélites. Os dados poderiam migrar para o SISPLAMTE e um órgão que utiliza essas informações poderia gerenciar e monitorar tudo. O nosso desafio é disseminar esse sistema nos patamares municipal (o que já está acontecendo), em nível estadual e federal. Um planejamento eficaz é, sem qualquer duvida, um excelente ingrediente para o desenvolvimento do nosso País.  Área agrícola observada pelo satélite SPOT
Juliana Gonçalves e Wedis Martins, Agencia Uerj de Noticias Cientificas (Agenc) da FCS especial para a Faculdade de Engenharia.
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